1. Ao expressar-se a respeito do método da Cabala, disse um dos antigos
rabinos que, se desejasse um anjo vir à Terra, teria ele de tomar a
forma humana para poder conversar com os homens. 0 curioso sistema
simbólico que conhecemos como Árvore da Vida é uma tentativa de reduzir à
forma diagramática as forças a fatores não só do universo manifesto
como também da alma humana, de correlacioná-los mutuamente a de
ordená-los como num mapa, para que as posições relativas de cada unidade
possam ser compreendidas, de modo a traçar-lhes as relações mútuas. Em
resumo, a Árvore da Vida é um compêndio de ciência, psicologia,
filosofia a teologia.
2. 0 estudante da Cabala trabalha de maneira
exatamente oposta à do estudante das ciências naturais: este formula
conceitos sintéticos; aquele analisa conceitos abstratos. Não é preciso
dizer, contudo, que, para se analisar um conceito, ele deve antes ser
integrado num sistema. Alguém deve, por conseguinte, ter imaginado os
princípios que estão resumidos no símbolo sobre o qual incide a
meditação do cabalista. Quais foram os primeiros cabalistas que idearam
todo o esquema? Os rabinos são unânimes quanto a esse ponto: foram os
anjos. Em outras palavras, foram seres de outra ordem de criação,
diferente da humana, que conferiram ao povo eleito a sua Cabala.
3.
Para a mente moderna, isso pode parecer uma afirmação tão absurda quanto
a doutrina de que são as cegonhas que trazem os bebês. Mas, se
estudarmos os vários sistemas místicos à luz da religião comparada,
descobriremos que todos os illuminati estão de acordo quanto a esse
ponto. Todos os homens a mulheres que tiveram experiências práticas da
vida espiritual afirmam que foram adestrados pelos seres divinos.
Seríamos muito tolos se negássemos testemunhos tão numerosos,
especialmente aqueles de nós que nunca tiveram qualquer experiência
pessoal dos estados superiores de consciência.
4. Dirão alguns
psicólogos que os anjos dos cabalistas a os deuses e manus de outros
sistemas são os nossos próprios complexos reprimidos; outros, de visão
menos estreita, afirmarão que esses seres divinos são as capacidades
latentes de nosso próprio eu superior. Para o místico devocional, essa é
uma questão que lhe interessa muito pouco; ele obtém resultados, e
apenas isso lhe importa; mas o místico filósofo, ou, em outras palavras,
o ocultista, faz reflexões sobre a matéria a chega a certas conclusões.
Estas, contudo, só podem ser entendidas quando sabemos com exatidão o
que entendemos por realidade a quando temos uma clara linha de
demarcação entre Q subjetivo e o objetivo. Todo aquele que está
familiarizado com o método filosófico conhece a dificuldade de
estabelecer esses pontos.
5. As escolas indianas de metafísica têm
sistemas filosóficos muito elaborados a complexos que procuram definir
essas idéias a torná-las concebíveis; e, embora gerações de videntes
tenham dedicado suas vidas a essa tarefa, os conceitos permanecem ainda
tão abstratos que só depois de um longo curso de disciplina, que no
Oriente se chama ioga, toma-se a mente capaz de compreendê-los.
6. 0
cabalista trabalha de maneira diversa. Ele não tenta elevar a mente nas
asas da metafísica até atingir o ar rarefeito da realidade abstrata; ele
formula um símbolo concreto que o olho pode ver, a com ele representa a
realidade abstrata que nenhuma mente humana pode conceber.
7. É
esse, exatamente, o mesmo princípio da álgebra. Que x represente a
quantidade desconhecida, y a metade de x, e z algo que conhecemos. Se
começarmos por fazer experiências com y e descobrirmos sua relação com
z, y deixará em breve de ser totalmente desconhecido; teremos descoberto
pelo menos algo a respeito dele; e, se formos suficientemente hábeis,
poderemos, no final, expressar y nos termos de z, a assim começarmos a
entender x.
8
. Existem muitos símbolos que são empregados como
objetos de meditação; a cruz, na cristandade; as formas de Deus no
sistema egípcio; os símbolos fálicos em outras fés. 0 iniciado utiliza
esses símbolos como meios para concentrar a mente a nela introduzir
certos pensamentos, evocando determinadas idéias a estimulando
determinados sentimentos. 0 iniciado, contudo, utiliza de modo diverso o
sistema simbólico; ele o utiliza como uma álgebra, por meio da qual é
capaz de ler os segredos dos poderes desconhecidos; em outras palavras,
ele utiliza o símbolo como um meio de guiar o pensamento no Invisível a
no Incompreensível.
9. E como ele faz isso? Utilizando um símbolo
composto, porquanto um símbolo unitário não serviria ao seu propósito.
Contemplando um símbolo composto como a Árvore da Vida, ele observa que
existem relações definidas entre as suas partes. Há algumas partes sobre
as quais conhece alguma coisa; há outras sobre as quais pode intuir
algo, ou, em outras palavras, a respeito das quais pode ter um
"palpite", raciocinando em função dos princípios primeiros. A mente
salta de um princípio conhecido a outro conhecido, e, assim fazendo,
atravessa as mais diversas distâncias, para falar metaforicamente; é
como um viajante no deserto que conhece a localização de dois oásis a
que faz uma marcha forçada entre ambos. Ele jamais se atreveria a
lançar-se ao deserto partindo do primeiro oásis a desconhecendo a
localização do segundo; mas, ao fim de sua jornada, ele não apenas terá
conhecido muito mais coisas a respeito das características do segundo
oásis, como também terá observado o terreno que se encontra entre ambos.
Assim, marchando de um oásis a outro, para frente a para trás no
deserto, ele gradualmente o explora; no entanto o deserto é incapaz de
sustentar-lhe a vida.
10. Ocorre o mesmo com o sistema cabalístico de
notação. As coisas que ele traduz são inimagináveis - e, no entanto, a
mente, correndo de um símbolo a outro, é capaz de pensar nessas coisas;
e, embora tenhamos de nos contentar em ver através de um vidro esfumado,
temos toda razão para esperar que, ao fim, vejamos essas coisas
diretamente a as conheçamos por completo, pois a mente humana se
desenvolve por meio do exercício, a aquilo que no início era tão
inimaginável quanto a matemática para uma criança que não consegue
resolver suas contas, chega ao limiar de nossa compreensão. Pensando
sobre uma coisa, formamos conceitos sobre ela.
1
1. Parece verdade que
o pensamento se originou da linguagem, não a linguagem do pensamento.
Aquilo que as palavras são em relação ao pensamento, os símbolos o são
no que respeita à intuição. Por mais curioso que possa parecer, o
símbolo precede a elucidação; é por isso que afirmamos, no início desta
obra, que a Cabala é um sistema em desenvolvimento, não um monumento
histórico. Temos hoje muito mais coisas a extrair dos símbolos
cabalísticos do que nos tempos da antiga revelação, pois nosso conteúdo
mental é mais rico em idéias. Por exemplo, muito mais rica é hoje para o
biólogo a Sephirah Yesod, na qual operam as forças do crescimento a da
reprodução, do que o era para o antigo rabino. A Esfera da Lua resume
tudo que se refere ao crescimento e à reprodução. Mas essa Esfera, tal
como é representada na Árvore da Vida, localiza-se nos Caminhos que
conduzem a outras Sephiroth; por conseguinte, o cabalista biólogo sabe
que deve haver certo relacionamento definido entre as forças resumidas
em Yesod a as forças representadas pelos símbolos consignados a esses
Caminhos. Meditando sobre esses símbolos, ele obtém vislumbres de
relações que não se revelariam quando se considera apenas o aspecto
material das coisas; e, quando ele tenta trabalhar esses vislumbres no
material de seus estudos, descobre que aí
se ocultam indícios
importantes. Dessa maneira, na Árvore, uma coisa leva a outra, e a
explicação das causas ocultas surge das proporções a das relações dos
vários símbolos individuais que compõem esse poderoso hieróglifo
sintético.
12. Cada símbolo, ademais, admite diferentes
interpretações nos diferentes planos e, por meio de suas associações
astrológicas, pode ele ser referido aos deuses de qualquer panteão,
abrindo, assim, novos a vastos campos de aplicação, nos quais a mente
viaja sem descanso, pois um símbolo leva a outro numa cadeia contínua de
associações, a ambos se confirmam mutuamente, da mesma maneira como os
fios de muitos ramos se reúnem num hieróglifo sintético, sendo cada
símbolo passível de interpretação nos termos de qualquer plano em que a
mente possa estar funcionando.
13. Esse poderoso a abrangente
hieróglifo da alma humana a do Universo, graças à associação lógica de
símbolos, evoca imagens na mente; essas imagens, porém, não se
desenvolvem ao acaso, mas seguem uma linha de associações bem definidas
na Mente Universal. 0 símbolo da Árvore é, para a Mente Universal, o que
o sonho é para o eu individual - um hieróglifo sintético, oriundo da
subconsciência, que representa as forças ocultas.
14. 0 universo é,
na realidade, uma forma mental projetada pela mente de Deus. A Árvore
Cabalística pode ser comparada a uma imagem onírica que surge da
subconsciência de Deus a dramatiza o conteúdo subconsciente da
Divindade. Em outras palavras, se o universo é o produto final da
atividade da mente do Logos, a Árvore é a representação simbólica do
material rude da consciência divina a dos processos pelos quais o
universo veio à existência.
15. Mas a Árvore não se aplica apenas ao
Macrocosmo, a sim, também, ao Microcosmo, que, como sabem todos os
ocultistas, é uma réplica em miniatura daquele. Eis a razão por que a
adivinhação é possível. Essa arte tão pouco compreendida a tão caluniada
tem por base filosófica o Sistema de Correspondências representado
pelos símbolos. As correspondências entre a alma humana e o universo não
são arbitrárias, mas surgem de identidades em desenvolvimento. Certos
aspectos da consciência foram desenvolvidos em resposta a certas fases
de evolução e, por conseguinte, incorporaram os mesmos princípios;
conseqüentemente, reagem às mesmas influências. A alma humana é como um
lago que se comunica com o mar por meio de um canal submerso; embora
aparentemente o lago esteja cercado de terra, seu nível de água baixa ou
se eleva com as marés, por obra dessa conecção oculta. Ocorre o mesmo
com a consciência humana; existe uma conecção subterrânea entre as almas
individuais e a alma do mundo, a essa comunicação se acha profundamente
encerrada nos escaninhos mais primitivos da subconsciência, e é por
essa razão que participamos do fluxo a refluxo das marés cósmicas.
16.
Cada símbolo da Árvore representa uma força ou um fator cósmico. Quando
a mente se concentra no símbolo, ela se põe em contato com essa força;
em outras palavras, um canal superficial, um canal na consciência, se
estabelece entre a mente consciente do indivíduo a um fator particular
da alma do mundo, e é por esse canal que as águas do oceano refluem para
o lago. 0 aspirante que utiliza a Árvore como seu símbolo de meditação
estabelece ponto por ponto a união entre a sua alma e a alma do mundo.
Essa união resulta num tremendo influxo de energia para a alma
individual, e é esse influxo que lhe confere poderes mágicos.
17.
Mas, assim como o universo deve ser governado por Deus, assim também a
multifacetada alma humana deve ser governada por seu deus - o espírito
humano. 0 eu superior deve governar o seu universo, pois, do contrário,
haveria força em desequilíbrio a cada fator governaria o seu próprio
aspecto, fazendo estalar a guerra entre eles. Teríamos, então, o domínio
dos Reis de Edom, cujos reinos eram forças desequilibradas.
18.
Temos, assim, na Árvore, um hieróglifo da alma do homem a do universo,
bem como nas lendas que a história da evolução da alma a do Caminho da
Iniciação associam a ela.
[Imagem by Google]
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