História da Bruxaria II

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HISTÓRIA

Identificamo-nos com a Tradição específica ou definida, mas orientamos a nossa prática ritual pela tradição das antigas bruxas lusitanas oriundas da Casa Telucama. O nosso panteão lusitano tem a ver com a nossa tradição histórico-cultural, venerando Endovélico e Atégina. Este estudo, como é óbvio, deve ser bem pensado, tendo em conta que as venerações dos Deuses e Deusas Lusitanas que possuem características próprias, mas aplicadas à Tradição Ibérica e de veneração Lusitana.

A Bruxaria é a Religião, como outra qualquer. O facto de uma pessoa ter o Dom, ter a Visão, não significa ser Bruxa. Muitas pessoas têm esse Dom. Mas é necessário desenvolvê-lo e acima de tudo aprender a usá-lo com consciência e responsabilidade. ... Necessário estudar, dedicar-se muito, até poder afirmar que é Bruxa ou Bruxo.

«Sempre que tiverdes necessidade de alguma coisa, uma vez por mês, de preferência na Lua Cheia, reuni-vos em algum lugar secreto e adorai meu espírito, eu que sou a Rainha de todos os bruxos.

«E sereis livres de escravidão; e como sinal de que sereis realmente livres, ficareis despidos nos vossos rituais; e haveis de cantar, dançar, festejar, tocar música e fazer amor, tudo em minha homenagem. Porque meu é o êxtase do espírito e minha também é a alegria que há na Terra; porque a minha lei é distribuir o amor para todos os seres»

A propósito do nosso estudo também versar a Bruxaria Tradicional Ibérica e em especial a Lusitana de que atrás falamos, é o seguinte: História Mítica não é pertença exclusiva de ninguém. Mas a nossa História exige pouco mais de quem a ela se dedica. A Tradição Ibérica surge, apenas porque existe divindades próprias. O ritual ensinado por algumas anciãs (Mama Réa) ou pela mitologia popular criou forma própria de comunicar com os Mistérios. Iniciatória como Iniciática implica os Mistérios e a palavra mistério, advém de mito. De mito fez-se loggia ou "narrativa", o que por vezes existirem pessoas desconhecerem este facto. A Tradição Ibérica que, v.g. o Coventículo do Corvo Sagrado estuda, tende a recuperar o que se pensa ter perdido o significado primordial através das narrativas encobertas, alegorias, dos Mistérios Sagrados, sobretudo na Terrae Ophiussa (Terra das Serpentes). Lusitânia, terra dos Iniciados, dos Mistérios, da transmissão esotérica, tem por princípio o seguinte: Nenhum conhecimento é válido se não for compartilhado.


... o culto aos Deuses destas terras, Tradição antiga mas renovada sem contudo fugir aos conceitos e preceitos do antigamente. Os nossos ancestrais adoravam os seus Deuses, com cultos diferenciados entre tribos e regiões e amavam e respeitavam os lugares e espíritos da natureza, colhiam e caçavam com bravura e respeito. Como todos os esclarecidos, o aspecto ritualístico, é desconhecido, por estas práticas não serem passadas a escrito, mas oralmente. A base dos nossos rituais tem a ver, sobretudo, como a forma de estar e de comunicar com essas entidades. não nos podemos esquecer o passado da Península Ibérica, que foi palco de influências de vários povos: os Fenícios, Cartagineses, Suevos, Visigodos e Celtas e Celtiberos.

Ninguém possui o conhecimento, depois desses séculos, tal como o praticavam, embora existam gentes guardiãs de tais segredos, sem que estes mesmos tenham sofrido grandes influências de outras tradições mágicas: não por preservação mas pela sua melhoria e elevação espiritual transmitindo-os de família para familiar ou de Mestre para Iniciado, só assim, entrará no mundo fascinante e poderoso da feitiçaria da Tradição Ibérica.

Os povos Ibéricos eram, na realidade vários povos, também foram os árabes, como foram os lígures e como o foram os lusitanos. Embora haja continuidade genuína e pura que surge dos lusitanos, com características muito particulares levaram, apesar das várias incursões, de se manter a sua civilização cultural e a sua raça.

Claro, que entre beberam, de algum modo, as várias influências, como as dos fenícios (a partir do Séc. X ane) e dos gregos (a partir do séc. VII ane), por isso, quando a Civilização celta atinge a região, existiam vestígios de proto-celticidade i.e., segundo os profundos estudos do pesquisador e historiador francês Antoine Fabre D'Olivet (em particular no seu livro 'História Filosófia Do Género Humano'), também perseguido pelo Vaticano e por Bonaparte, o povo fenício, não era mais uma das facções da Civilização celta, facção essa que deu origem, numa cisão social memorável, às amazonas há-m's-ohne: as sem macho) hoje, reveladas arqueologicamente e não pertencem ao 'reino da fantasia' (e dando raz"o às certezas históricas anteriormente apontadas por D'Olivet).

A este registo, ao qual, Martins Sarmento não teve acesso demonstra a digressão céltica formou vários povos a partir dos clãs dissidentes, penetrou a Ásia e o Egipto e quando chegou em massa à Península Ibérica entrou pela região do Algarve (e vindos do Norte da África e da Espanha) com os Cinetes, por Lisboa com os Cempsos, pela Estremadura (e vindos da Espanha) com os Sepes, por Coimbra e Viseu (e vindos da Espanha) com os Pernix Lucis e pelo norte (Galiza, na Espanha; Braga, Barcelos, Guimarães, Chaves e região do rio Douro, em Portugal) com os Draganes. Uma horda dominou e aculturou os povos ali viviam no séc. VI ANE. Outra facção dos celtas, os cartagineses, chegou à região no séc. II ANE já com o Império Romano fazendo soar as trompetas em algumas abordagens de salteio.

Poucos séculos depois, na era actual, chegaram os vândalos, alanos e suevos (409 Depois da Nossa Era), os Visigodos (415 DNE) e, cerca de trezentos anos depois, novamente os Árabes (710 DNE). Assim, quando se fala de período pré-céltico ibérico temos de o localizar entre os sécs. X e VI DNE, uma vez aqueles clãs aqui instalados em 600 DNE constituíram, designados por celtíberos e é deles que se fala quando observamos, por exemplo, a arquitectura sócio-militar nos castros (citânias) de Briteiros e de Sabroso (Guimarães) ou de Loureiro (Pontevedra) ou Santa Tecla (La Guardia). O formidável e íntimo (porque ousadamente pessoal) trabalho de Martins Sarmento, pôs a descoberto as raízes sociais que deram origem a Portugal e cuja força telúrica ajudou, na verdade, o príncipe D. Afonso Henriques a tornar-se o primeiro rei português a partir, exactamente, de Guimarães!

Não podemos esquecer nunca, há o traço alquímico a unir todos os povos.

Como Ibéricos, especialmente os Lusitanos, possuímos a Tradição Ancestral, na qual muitas das práticas exteriores, por exemplo, o culto dos adoradores, muito comum na nossa etnografia, foi absorvida pela Religião católica. Surge mais tarde em épocas festivas tais como o Entrudo, Pascoela e Natal são datas aproximadas das festas, que foram palco de adoração aos nossos Deuses.

A adoração e a Ritualística aos Deuses Peninsulares pode ser inserida na Arte Antiga, hoje comummente chamada Tradicionalista e claro, muito anterior à Wicca de Gardner e de outros precursores. Aliás, é sabido que G. Gardner (nos anos 50) transforma a Feitiçaria, numa nova Religião e baptizou-a de Wicca, criando modelo ritual, servindo de padrão a todos os Coventículos e solitários.

A nossa Tradição tem a ancestralidade reconhecida em vasto Panteão autóctone como confirmam os variadíssimos vestígios históricos, que cada vez mais surgirão à luz dos homens.

Não é fácil o acesso aos Coventículos ou Conciliábulos (expressão portuguesa usada pelas nossas bruxas, em vez de Coven) actualmente únicos redutos detentores destes velhos segredos e cultos continuam livres de conceitos dogmáticos religiosos. Os Coventículos mantêm-se fechados, sem dúvida, mantendo a sua descrição. Só de vez enquando os Coventículos realizam cerimónias abertas (por convite) a pessoas que possuem algum conhecimento.

Contudo, toda a Tradição Ibérica procura neste momento seguir os caminhos do neo-paganismo e a abertura começa a ser uma realidade. ... preciso ter em conta que a Antiga Religião existe há mais de 22 mil anos, embora como não se pretende expandir-se como a Igreja católica -- ou como qualquer seita dogmática -- que só tem 2 mil anos de existência. O medo que uma Tradição de muitos séculos se dissolva em conceitos modernistas é descabido. O princípio geral e unânime e aceito na Bruxaria Lusitana, Tradição Ibérica, é a seguinte:

Não convertemos ninguém, por isso, de certeza que nenhum de vós encontrará ninguém a convidá-lo para se juntar a um Coventículo, sem que primeiro dar provas do seu caminho espiritual. Mantêm o sistema de comunicação muito próprio entre si, conhecem quem é quem na Tradição, mesmo que a distância nos separe não estamos separados, sabemos logo à partida quem são os impostores e também aqueles que têm valor.

Contudo, membros de Coventículos não se afastam de conviver com outros e de movimentar-se no meio pagão, adorando as Divindades em cada Festival pagão, com o devido respeito e com a crença de que cada Divindade tem um papel importante na vida dos homens e no meio.

O Panteão Lusitano Ibérico é profusamente rico e tribal. Os nossos Deuses existem nas antigas regiões da Bética, da Lusitânia e da Calaecia, e entre várias Divindades, cultua-se: Endovélico o Deus Curador e do mundo subterr'neo, Atégina A Deusa Mãe, Trebaruna A Guerreira e Protectora, Bônconcios O Guerreiro, Tongoenabiagus O Fertilizador, Tanira A deusa das Artes, Nabica A Ninfa das Florestas, Aernus O senhor dos ventos do Norte e Brigantés a Deusa guerreira.

Sobre Brigantés Esta divindade é resultante da influência dos povos do norte da Europa nas terras da Ibéria A qual não têm nada a ver com Briga ou Brigit dos celtas. Nós, feiticeiros Ibéricos seguimos os actuais calendários usados na Wicca, embora haja calendários vivos que a própria Tradição nos ditou através dos tempos. Na Nossa Tradição há Celebrações anuais básicas, O nascimento, O crescimento, O Apogeu e O Rito aos Idos aonde visitamos o Rio do Esquecimento, para cultuar os nossos antepassados idos.

A tradicional estátua do Guerreiro Lusitano, erecto com um escudo (redondela defensiva) adiante, que se aprende na Historiografia oficial, como sendo convencional soldado da Lusitânia, ou até mesmo Viriato, na realidade é a configuração simbólica do Deus Solar Endovélico, cuja redondela tão só designa o círculo do Sol.

Os Lusitanos prestavam o culto a Bel, divindade semelhante ao Melkitsedek bíblico. Em formosas antas e antelas junto a lagos ou a rios em bosques sagrados por eles, invocavam os Deuses ctónicos da Natureza oferecendo pão e vinho a Bel, consagrado Espírito Universal e mel e flores a Belas, consagrada Alma Universal, durante os períodos de Plenilúnio.

Usualmente, na Tradição Ibérica o culto é dirigido, tal como na Wicca, à Deusa e ao Deus mas, também, cada Divindade pode ser adorada individualmente.

Cada Divindade ibérica (Lusitana) tem os seus atributos e é de grande importância no uso de objectos adequados e os cultos em locais apropriados, salvaguardando a situação urbana do nosso século, pode-se adorar, por exemplo, Tongoenabiagus em casa. Quando se trata de Divindade de cura e das nascentes, se for no interior, representa-se simbolicamente com o elemento Água. Abrir o Círculo para Atégina, ou para a Deusa Trebaruna, entra-se em conexão com a Deusa, honrando os nossos Deuses é prestar a melhor homenagem e entrar nos seus Mistérios. Por exemplo, Endovélico é o Deus protector de Portugal, representado mais tarde pela figura do Arcanjo Miguel. Estes são os mistérios do Portugal simbólico...

Lembrar sempre aos iniciados quase sempre têm dupla família iniciática: a família da Baixa Iniciação, própria do ramo da e a família da Alta Iniciação, como escola de Mistérios.

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