Os sistemas originais de Tantra se basearam nos Cultos Draconianos
ou Tifonianos do antigo Egito, conforme se pode deduzir dos resíduos de
muitos termos egípcios em textos tântricos, particularmente nos da
Índia. Por exemplo, shakti, que significa 'poder', o conceito central do
Tantra, já era conhecido no Egito eras antes sob o nome de Sekht ou
Sekhmet, a consorte dos deuses. Ela tipificava o calor ígneo do sol do
hemisfério sul que tinha seu correspondente biológico no calor sexual da
leoa, um símbolo de origem africana. Pasht, em Sânscrito, significa
'animal', e no Tantra a palavra Pashu se relaciona especialmente aos
modos bestiais de congresso sexual, isto é, congresso sexual não
sacralizado pela tradição ortodoxa. Da mesma forma, a palavra
correspondente a Pashu existia no Egito como Pasht ou Bâst, a deusa
felina que agia como uma gata e que, em eras posteriores, cedeu seu nome
aos bast-ardos que, originalmente, eram aquelas crianças nascidas de
mães que as criavam sozinhas, numa época em que o papel do macho no
processo da procriação era desconhecido ou em que a paternidade
individual não era reconhecida.
No Tantra, as paixões animalescas eram tipificadas pelo pashu, isto
é, alguém que desprezava os rituais tântricos na utilização das energias
sexuais. Igualmente, o deus On no Egito representava o Sol e este nome
foi perpetuado na religião Védica como Ong ou Om, a vibração primal do
espírito criativo. Um outro exemplo interessante é o nome da deusa
Sesheta, que representava o período menstrual feminino; no Hinduísmo,
Sesha é a serpente de mil cabeças, bem como também é um nome tântrico
para a vibração lunar ou 'serpente da escuridão' que se manifesta
periòdicamente nas mulheres. Estes exemplos da origem egípcia dos
conceitos tântricos são quase infinitos.
Os cultos Ofídicos
(relativos à serpente) da África foram depurados de seu conteúdo tribal
durante sua fusão com a Tradição Draconiana do Egito. Entretanto, é na
Divisão das Kaulas do Vama Marg [Vama significa 'mulher'. Ela era
tipificada pela lua, o néter, o fundo, ou inferno, em contraposição ao
éter, o topo, o superior; a esquerda em contraste com a direita. Marg
significa 'caminho'; daí o termo Vama Marg denotar o Caminho que envolve
a utilização da mulher, a corrente lunar ou seus poderes infernais], ou
Caminho da Mão Esquerda, que a forma mais perfeita desta tradição foi
continuada na Índia e no Extremo Oriente. Desta divisão, a Chandrakala
ou "Raio da Lua" manteve algumas das principais características dos
cultos Ofídicos.
A aplicação dos processos Ofídicos ao corpo
humano foi revelada em três níveis principais em que os segredos da
magia sexual foram demonstrados com o uso das suvasinis ou 'mulheres de
cheiro adocicado' que representavam a deusa primal e que formavam o
Círculo da Kaula (o Círculo da Kala Suprema, Mahakala: a Chandrakala ou
'a Deusa do Raio da Lua').
De modo a transformar a energia sexual
em energia mágica (ojas), a Serpente de Fogo (kundalini) adormecida na
base da espinha é despertada. Ela então limpa a energia vital de tudo o
que é negativo através da virtude purificadora de seu calor intenso.
Assim, a função do sêmen no Tantra é construir o 'corpo de luz' (corpo
astral), o corpo interior do ser humano. À medida em que o fluido vital
se acumula nos testículos, ele é consumido pelo calor da Serpente de
Fogo e os vapores voláteis ou 'perfumes' deste sêmen fortalecem o corpo
interior.
O culto à shakti significa, de fato, o exercício da
Serpente de Fogo, que não apenas fortifica o corpo de luz mas
gradualmente queima todas as impurezas do corpo físico e o rejuvenesce.
Quando o poder desperto da Serpente de Fogo chega ao plano da Lua, o
fluxo de líquidos cérebro-espinais acalma os estados febris e remove
todas as toxinas do corpo, refrigerando todo o sistema. Os adeptos do
Tantra têm utilizado há muitos séculos vários métodos de elevação da
Serpente de Fogo, e eles sabem, por exemplo, do valor mágico da urina e
das essências vaginais que estão carregadas de vitalidade pois contêm as
secreções das glândulas endócrinas. Estas práticas influenciam o
sistema endócrino e estimulam os centros nervosos sutis ou chakras que
formam uma ramificação dos centros de poder no corpo que agem como
condutores das energias cósmicas.
Os Adeptos da Kaula, ao invés
de dirigirem sua adoração à coroa da Deusa, preferem oferecê-la à vulva,
onde está contida sua energia máxima, carregada de poder mágico.
As
três gunas (os princípios sutis que equivalem aos elementos da
Alquimia: Mercúrio, Enxôfre e Sal), Sattva, Rajas e Tamas se equivalem à
suave e fresca ambrosia, ou vinho prateado da lua, ao vinho rubro dos
fluidos ígneos de Rajas e às borras espessas do vinho vermelho, ou lava
negra, de Qliphoth. No plano da Serpente de Fogo, Tamas, ou Noite,
caracteriza Seu primeiro estágio: o caos negro da 'Noite do Tempo' e a
'Serpente do Lodo'. Quando a Serpente de Fogo desperta, Ela então
derrama o pó vermelho, ou perfumes, associados ao Rajas. Este é o pó dos
Pés da Mãe, que se manifesta no fluxo menstrual em seu segundo e
terceiro dias. Finalmente, Ela atinge a pureza calma de sua essência
lunar à medida em que chega ao cérebro, acima da zona de poder do
visuddha (chakra da garganta). É nesta jornada de volta que Ela reúne
estas essências num Supremo Elixir e o descarrega através do Olho
Secreto da Sacerdotisa. A Lua Cheia, portanto, representa a Deusa 15,
uma lunação, pois Ela é o símbolo do ponto de retorno, criando, assim, a
16a. kala ou Dígito do Supremo Elixir: a Parakala.
Rajas, Tamas e
Sattva são representados na Tradição Oculta Ocidental pelos princípios
alquímicos do Enxôfre, Sal e Mercúrio, assim revelando que a arte da
Alquimia não tinha outra provável intenção além daquela que tem sido
objeto da preocupação dos místicos e dos magos, isto é, a obtenção da
consciência cósmica através dos Mistérios psicossexuais da Serpente de
Fogo. Esta trindade, Rajas, Tamas e Sattva ou Enxôfre, Sal e Mercúrio,
aparece no Tantra sob o nome de tribindu (três sementes; kamakala,
literalmente, a flor ou essência do desejo). De acordo com o Varivasya
Rahasya, estas três essências são conhecidas como shanti, shakti e
shambhu, ou paz, poder e abundância, e elas fluem dos pés da Deusa. É
por isto que o tribindu está situado, diagramàticamente, na trikona ou
triângulo invertido (yoni ou vagina) que simboliza Kali. Sattva, Rajas e
Tamas são, assim, as três gunas ou princípios representados um em cada
vértice do triângulo pelas letras do alfabeto Sânscrito que contém as
vibrações de seus poderes relevantes. Conforme orientação específica do
Culto, uma ou outra guna é exaltada; na prática, a disposição das letras
não faz muita diferença. É a coleta das essências dos pés da Deusa que
deu seu nome ao Vama Marg ou Caminho da Mão Esquerda, pois, neste
contexto, Vama significa tanto 'gerar' como 'botar para fora'. Os
praticantes deste Caminho trabalham com as secreções que fluem da
genitália feminina e não com a mera pronúncia das letras do alfabeto
que, apesar de sua utilização mântrica para carregar e direcionar os
fluidos, têm pouca ou nenhuma outra utilidade além desta.
De
acordo com o Tantra, a Serpente de Fogo é em si o mantra criativo OM. A
reverberação deste mantra, conforme ensinado no Culto da Kaula, alcança o
poder enrodilhado na base da coluna vertebral e faz com que este se
erga, inundando o corpo físico de luz. E, pela veneração tântrica da
Serpente de Fogo através da vagina da mulher escolhida para representar a
Deusa, a kundalini relampeja para cima e, finalmente, se une em êxtase
ao seu Senhor Shiva no Local da Lótus de Mil Pétalas.
[Imagem by Google]
0 comentários:
Postar um comentário