1. São várias as maneiras pelas quais se podem agrupar as Dez Sephiroth
Sagradas na Árvore da Vida. Não se pode dizer que determinada forma seja
mais correta que outra, pois elas servem a diferentes objetivos a
lançam muita luz sobre o significado das Sephiroth individuais,
revelando-lhes as associações e o equilíbrio.
2. São valiosas também
porque permitem relacionar o sistema decimal da Árvore com os sistemas
temários, quaternários e setenários.
3. A conformação primária da
Árvore consiste em três Pilares. Observaremos nos diagramas que as
Sephiroth se prestam facilmente a essa divisão vertical tríplice, visto
que estão dispostas em três colunas (Diagrama I), denominadas Pilar da
Misericórdia (à direita), Pilar da Severidade (à esquerda) e Pilar da
Suavidade ou do Equilíbrio (ao meio).
4. Antes de prosseguirmos,
cumpre esclarecer o significado dos lados direito a esquerdo da Árvore.
Observando o diagrama, vemos Binah, Geburah a Hod em seu lado esquerdo, a
Chokmah, Chesed a Netzach no direito; essa é a maneira pela qual
contemplamos a Árvore quando a utilizamos para representar o Macrocosmo.
Mas, quando a utilizamos para representar o Microcosmo, isto é, o nosso
próprio ser, devemos dar-lhe as costas, de modo que o Pilar Medial se
equipare à espinha, o Pilar que contém Binah, Geburah e Hod corresponda
ao lado direito do corpo e o Pilar que contém Chokmah, Chesed a Netzach,
ao lado esquerdo. Esses três Pilares podem também ser correlacionados
com os conceitos Shushumna, Ida a Pingala do sistema iogue. É de extrema
importância nos lembrarmos dessa reversão da Árvore quando a utilizamos
como um símbolo subjetivo, pois do contrário obteremos resultados
confusos. Em sua valiosa obra sobre a literatura da Cabala, The Holy
Qabalah [A cabala sagrada], o Sr. Waite, no frontispício, por alguma
razão que só ele conhece, inverte a apresentação habitual da Árvore; na
maioria das vezes, as apresentações desse símbolo correspondem à Árvore
objetiva, não à subjetiva. Quando empregamos a Árvore para indicar as
linhas de força na aura, devemos utilizar a Árvore subjetiva, de modo
que Geburah corresponda ao braço direito. Em todos os casos, o Pilar
Medial permanece, naturalmente, imóvel.
5. 0 Pilar da Severidade é
negativo ou feminino, e o Pilar da Misericórdia é positivo ou masculino.
Poder-se-ia pensar superficialmente que essas atribuições conduzem a um
simbolismo incompatível, mas um estudo dos Pilares à luz do que agora
sabemos a respeito das Sephiroth individuais revelará que as
incompatibilidades são puramente superficiais a que o significado
profundo do simbolismo é inteiramente concorde.
6. Observar-se-á que a
linha indicadora dos desenvolvimentos sucessivos das Sephiroth
zigue-zagueia de um lado ao outro do hieróglifo, tendo por isso recebido
o nome apropriado de Relâmpago Brilhante. Essa imagem indica
graficamente que as Sephiroth são sucessivamente positivas, negativas e
equilibradas. Essa é uma representação muito mais adequada do processo
da criação do que a figurada pela disposição das Esferas numa linha
reta, umas sobre as outras, pois indica não só a diferença natural das
Emanações Divinas, como também as suas mútuas relações; quando
contemplamos o Hieróglifo da Árvore, percebemos facilmente as relações
existentes entre as diferentes Sephiroth, a podemos ver como elas se
agrupam, refletem-se a reagem mutuamente.
7. No topo do Pilar da
Severidade, o Pilar feminino a negativo, está Binah, a Grande Mãe. Esta é
atribuída à Esfera de Saturno, a Saturno é o Dador da Forma. No topo do
Pilar da Misericórdia está Chokmah, o Pai Supremo, potência masculina.
Temos aqui, então, a oposição entre Forma e Força.
8. Na Segunda
Trindade, apresenta-se a oposição entre Chesed (Júpiter) a Geburah
(Marte). Temos novamente os pares de opostos: da construção, em Júpiter,
o legislador a governante benéfico; a da destruição, em Marte, o
guerreiro e aniquilador do Mal. Poder-se-á perguntar por que razão uma
potência masculina como Geburah está colocada no Pilar feminino. Cabe
lembrar, contudo, que Marte é uma potência destrutiva, constituindo um
dos planetas maléficos da Astrologia. 0 positivo edifica, o negativo
destrói; o positivo é uma força cinética, o negativo é uma força
estática.
9. Esses aspectos surgem novamente em Netzach, na base do
Pilar da Misericórdia, a em Hod, na base do Pilar da Severidade. Netzach
é Vênus, o Raio Verde da Natureza, força elemental, a iniciação das
emoções. Hod é Mercúrio, Hermes, a iniciação do conhecimento. Netzach é
instinto a emoção, força cinética; Hod é intelecto, pensamento concreto,
redução à forma do conhecimento intuitivo.
10. Devemos lembrar,
contudo, que cada Sephirah é negativa, ou seja, feminina, em relação à
sua predecessora, da qual emana a da. qual recebe a Influência Divina; a
positiva, masculina ou estimulante, em relação à sua sucessora, à qual
transmite a Influência Divina. Portanto, toda Sephirah é bissexual, como
um ímã, cujos pólos devem ser necessariamente um positivo e o outro
negativo. Poderíamos explicar melhor o assunto se recorrêssemos a uma
analogia astrológica, afirmando que unia Sephirah no Pilar feminino está
dignificada quando funciona em seu aspecto negativo, e deprimida quando
funciona positivamente, a que no Pilar masculino a posição se apresenta
invertida. Portanto, Binah (Saturno) está dignificada quando produz
estabilidade a resistência, mas deprimida quando o excesso de
resistência toma-se ativamente agressivo, produzindo obstrução a emissão
de matéria estéril. Por outro lado, Chesed, Misericórdia, está
dignificada quando ordena a preserva harmoniosamente as coisas do mundo,
mas deprimida quando a misericórdia se torna sentimentalismo a usurpa a
Esfera de Saturno, preservando aquilo que a energia ígnea, a Esfera
oposta, a Sephirah Geburah, deveria eliminar da existência.
11. Os
dois Pilares representam, portanto, as forças da natureza: as positivas a
as negativas, as ativas a as passivas, as destrutivas a as
construtivas, a forma que concretiza e a força que libera, que
desagrega.
12. As Sephiroth do Pilar Medial podem ser encaradas
também como os níveis representativos da consciência ou como os planos
sobre os quais eles operam. Malkuth é a consciência sensorial; Yesod é o
psiquismo astral; Tiphareth é a consciência iluminada, o aspecto mais
elevado da personalidade a que a individualidade pode se unir, a que
constitui o estado que possibilita a iniciação; trata-se da consciência
do eu superior atraída à personalidade - vislumbre da consciência
superior oriunda da parte posterior do véu de Paroketh. É por essa razão
que os messias a os salvadores do mundo são referidos a Tiphareth no
simbolismo da Árvore, pois são eles que concedem a luz à humanidade; e,
como todos os que roubam o fogo do céu devem sofrer, eles morrem a morte
sacrificial em benefício da humanidade. É aqui também que morremos para
o Eu Inferior, a fim de podermos alcançar o Eu Superior. In Jesu
morimur.
13. 0 Pilar Medial eleva-se através de Daath, a Sephirah
Invisível, que, como já vimos, é o Conhecimento, de acordo com os
rabinos, a percepção ou apreensão consciente, de acordo com a
terminologia psicológica. No topo desse Pilar está Kether, a Coroa, a
Raiz de Todo Ser. A consciência, portanto, alcança a essência espiritual
de Kether por meio da compreensão de Daath, que a faz cruzar o Abismo,
levando-a para a consciência transladada de Tiphareth, para onde é
conduzida por intermédio do sacrifício de Cristo, que rasga o véu
Paroketh; em seguida, para a consciência psíquica de Yesod, a Esfera da
Lua e, finalmente, para a consciência cerebral a sensorial de Malkuth.
14.
É esse o curso da consciência na marcha da involução, que é o termo
aplicado a essa fase de evolução que se dirige para baixo, desde a
Primeira Manifestação em meio aos planos sutis de existência até a
matéria densa; por essa razão, deveria o esoterista utilizar o termo
evolução apenas quando pretende descrever a subida da matéria ao
espírito, pois é nessa direção que ocorre a evolução daquilo que
involuiu através das fases sutis de desenvolvimento. É óbvio que nada
pode evoluir a desenvolver-se se antes não involuiu a não se
desenvolveu. 0 curso real da evolução segue a trilha do Relâmpago
Brilhante ou da Espada Flamejante, de Kether a Malkuth, na ordem de
desenvolvimento das Sephiroth previamente descritas; mas a consciência
desce plano por plano, a só começa a manifestar-se quando as Sephiroth
polarizantes estão em equilíbrio; por conseguinte, os modos de
consciência são atribuídos às Sephiroth Equilibrantes no Pilar Medial,
mas os poderes mágicos são atribuídos às Sephiroth opostas, cada uma das
quais se encontra na haste da balança dos pares de opostos.
15. 0
Caminho da Iniciação segue as espirais da Serpente da Sabedoria na
Árvore; mas o Caminho da Iluminação segue o Caminho da Flecha lançada
pelo Arco da Promessa, Qesheth, o arco-íris de cores astrais que se
estende como um halo por trás de Yesod. Esse é o caminho do místico, que
se distingue do caminho do ocultista; é rápido a direto, e livre do
perigo da tentação da força desequilibrada que se encontra nos outros
pilares, mas não confere nenhum poder mágico, salvo os do sacrifício em
Tiphareth a os do psiquismo em Yesod.
16. Já fizemos menção às Três
Trindades da Árvore em nossa discussão preliminar das Dez Sephiroth.
Recapitulemo-las novamente para maior clareza. Mathers chama a Primeira
Trindade, constituída por Kether, Chokmah a Binah, de Mundo Intelectual;
a Segunda Trindade, constituída por Chesed, Geburah a Tiphareth, de
Mundo Moral; e a Terceira Trindade, formada por Netzach, Hod a Yesod, de
Mundo Material. A meu ver, essa terminologia é equívoca, pois tais
palavras não nos comunicam o verdadeiro sentido desses Mundos. 0
intelecto é essencialmente a concretização da intuição a da compreensão
e, como tal, é um vocábulo inadequado para o Mundo das Três Supremas.
Concordo com o emprego do termo Mundo Moral para Chesed, Geburah a
Tiphareth, pois ele é sinônimo do meu termo Triângulo Ético; mas
discordo enfaticamente da utilização do termo Mundo Material para a
Trindade de Netzach, Hod a Yesod, pois esse vocábulo pertence
exclusivamente a Malkuth. Essas três Sephiroth não são materiais e sim
astrais, a para essa Trindade eu proponho o termo Mundo Astral ou
Mágico; não é conveniente utilizar as palavras fora de seu sentido
dicionarizado, ainda que lhes precisemos o sentido, a isso Mathers não
se preocupou em fazer.
17. A Esfera Intelectual não é tanto um nível
quanto um Pilar, pois o intelecto, sendo o conteúdo da consciência, é
essencialmente sintético. Esses termos, contudo, parecem provir de uma
tradução algo rude dos nomes hebraicos dados aos quatro níveis em que os
cabalistas dividem a manifestação.
18. Esses quatro níveis permitem,
ainda, outro agrupamento das Sephiroth. 0 mais elevado deles é
Atziluth, o Mundo Arquetípico, composto por Kether. 0 segundo, Briah,
chamado de Mundo Criativo, consiste em Chokmah a Binah, Abba a Ama
Supremos, o Pai e a Mãe. 0 terceiro nível é o de Yetzirah, o Mundo
Formativo, que consiste das seis Sephirot centrais, a saber, Chesed,
Geburah, Tiphareth, Netzach, Hod a Yesod. 0 quarto Mundo é Assiah, o
Mundo Material, representado por Malkuth.
19. As Dez Sephiroth
conformam-se também em Sete Palácios. No Primeiro Palácio estão as Três
Supremas; no Sétimo Palácio estão Yesod e Malkuth; a as demais
Sephiroth têm cada uma um Palácio próprio. Esse agrupamento é
interessante, pois revela o íntimo relacionamento entre Yesod e MaIkuth,
a permite equacionar a escala décupla da Cabala com a escala sétupla da
Teosofia.
20. Há também outra divisão tripla das Sephiroth que é
muito importante para o simbolismo cabalístico. Nesse sistema,
confere-se a Kether o título de Arik Anpin, o Rosto Imenso. Este se
manifesta como Abba, o Pai Supremo, Chokmah, a Ama, a Mãe Suprema,
Binah, sendo esses os aspectos positivo a negativo do Três em Um. Esses
dois aspectos diferenciados, quando unidos, são, de acordo com Mathers,
Elohim, esse curioso Nome Divino que é um substantivo feminino
flexionado com uma desinência masculina. Essa união ocorre em Daath, a
Sephirah invisível.
21. As seis Sephiroth seguintes conformam-se em
Zaur Anpin, o Rosto Menor, ou Microprosopos, cuja Sephirah especial é
Tiphareth. A Sephirah restante, Malkuth, recebe o nome de Noiva de
Microprosopos.
22. Microprosopos recebe também, às vezes, o nome de
Rei; Malkuth, em conseqüência, o nome de Rainha. Ela se chama também Mãe
Menor ou Eva Terrestre, distinta de Binah, a Mãe Suprema.
23. Esses
diferentes métodos de classificar as Sephiroth não são sistemas
concorrentes, mas visam permitir adequar o sistema décuplo dos
cabalistas com outros sistemas, utilizando uma notação tripla, tal como a
cristã, ou, como já observamos, um sistema sétuplo como o da Teosofia;
todos esses sistemas são valiosos porque indicam relações funcionais
entre as Sephiroth.
24. O sistema final de classificação que devemos
considerar encontra-se sob a regência das Três Letras-Mães do alfabeto
hebraico: Aleph (A), Mem (M) a Shin (Sh). De acordo com a atribuição
Yetzirática do alfabeto hebraico, essas três letras estão relacionadas
com os três elementos Ar, Água e Fogo. Sob o governo de Aleph,
encontra-se a Tríade Aérea de Kether, na qual está a Raiz do Ar, que se
reflete para baixo, através de Tiphareth, o Fogo Solar, em Yesod, a
Radiância Lunar. Em Binah encontra-se a Raiz da Água (Marah, o Grande
Mar), que se reflete para baixo, através de Chesed, em Hod, sob o
governo de Mem, a Mãe da Água. Em Chokmah encontra-se a Raiz do Fogo,
que se reflete para baixo, através de Geburah, em Netzach, sob o governo
de Shin, a Mãe do Fogo.
25. Cumpre ter sempre em mente esses
agrupamentos, visto que eles nos ajudam enormemente a compreender o
significado das Sephiroth individualmente; como já salientamos em várias
oportunidades, só podemos compreender uma Sephirah através de suas
múltiplas relações.
[Imagem by Google]
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