Título: Kether, a Coroa. (Em hebraico, 1m: Kaph, Tau, Resh.)
Imagem Mágica: Um velho rei barbado, visto'de perfil.
Localização na Árvore: No topo do Pilar do Equilíbrio, no Triângulo Supremo.
Texto
Yetzirático: 0 Primeiro Caminho chama-se Inteligência Admirável, ou
Oculta, pois é a luz que concede o poder da compreensão do Primeiro
Princípio, que não tem começo. É a Glória Primordial, pois nenhum ser
criado pode alcançar-lhe a essência.
Títulos Conferidos a Kether: A
Existência das Existências. 0 Segredo dos Segredos. 0 Antigo dos
Antigos. 0 Velho dos Dias. 0 Ponto Primordial. 0 Ponto no Círculo. 0
Altíssimo. 0 Rosto Imenso. A Cabeça Que não Existe. Macroprosopos. Amém.
Lux Occulta. Lux Interna. He.
Nome Divino: Eheieh.
Arcanjo: Metatron.
Coro Angélico: As criaturas vivas a sagradas. Chaioth ha Qadesh.
Chakra Cósmico: Rashith ha Gilgalim. Primum Mobile. Primeiros Remoinhos.
Experiência Espiritual:: A União com Deus.
Virtude: Consecução. A Realização da Grande Obra.
Correspondência no Microcosmo: 0 Crânio. 0 Sah. Yechidah. A Centelha Divina. 0 Lótus de Mil Pétalas.
Simbolos: 0 ponto. A coroa. A suástica.
Cartas
do Tar6: Os quatro ases: Ás de Raus: raiz dos Poderes do Fogo; Ás de
Copas: raiz dos Poderes da Água; Ás de Espadas: raiz dos Poderes do Ar;
Ás de Ouros: raiz dos Poderes da Terra.
Cor em Atziluth: Esplendor.
Cor em Briah: Esplendor branco, puro. Cor em Yetzirah: Esplendor branco, puro. Cor em Assiah: Branco, salpicado de ouro.
1.
Kether, a Coroa, localiza-se na cabeça do Pilar Medial do Equilíbrio, e
nele estão suspensos os Véus Negativos da Existência. Já comentei a
utilização desses Véus Negativos como estrutura para o pensamento, de
modo que não repetirei esse ponto, mas lembro ao leitor qúe Kether, a
Primeira Manifestação, representa a cristalização primordial na
manifestação do que era até então imanifesto e, por conseguinte,
incognoscível. Nada podemos saber a respeito da raiz da qual brota
Kether; mas, quanto à própria Kether, podemos adiantar alguma coisa. Ela
pode representar para nós, em nosso estágio de desenvolvimento, o
Grande Desconhecido, mas não é o Grande Incognoscível. A mente do mago
pode abarcá-la em suas visões mais elevadas. Em minhas próprias
experiências com a operação conhecida como Elevação nos Planos, que
consiste em elevar a consciência pelo Pilar Médio, por meio da
concentração nos sucessivos símbolos a nos Caminhos, Kether, numa
ocasião em que lhe toquei as fímbrias, surgiu como uma cegante luz
branca, anulando por completo o pensamento.
2. Não existe forma em
Kether, apenas puro ser, qualquer que seja ele. Poderíamos dizer que se
trata de uma latência que se encontra a apenas um grau da
não-existência. Tais conceitos são necessariamente vagos a não estou
capacitada para dar-lhes a precisão que devem ter, mas ficarei
satisfeita se pudermos reconhecer os graus do devir, compreendendo que a
rude diferenciação entre Ser a Não-Ser não representa os fatos. Quando a
existência se toma manifesta, os pares de opostos penetram o ser; mas
em Kether não existe divisáo nos pares de opostos, pois estes, para se
manifestarem, precisam esperar a emanação de Chokmah a Binah.
3.
Kether, portanto, é o Um, que existia antes mesmo de dispor de um
reflexo de si mesmo, para apresentar-se como imagem na consciência e aí
estabelecer a polaridade. Devemos acreditar que ela transcende todas as
leis conhecidas da manifestação - apenas existe, sem reação. Cabe
lembrar, contudo, que, quando falamos de Kether, não significa uma
pessoa, mas um estado de existência, a tal estado de substância
existente deve ter sido completamente inerte, puro ser, sem atividade,
até iniciar-se a atividade, que emana Chokmah.
4. A mente humana, não
conhecendo outro modo de existência além do da forma a da atividade,
tem muita dificuldade para conceber um estado inteiramente informe de
passividade, o qual é, não obstante, muito distinto do não-ser. Mas
precisamos realizar esse esforço, se quisermos compreender os
fundamentos da filosofia cósmica. Não devemos lançar os Véus da
Existência Negativa à frente de Kether ou nos condenar a uma perpétua
dualidade insolúvel; Deus e o demônio lutarão para sempre em nosso
cosmo, e não há finalidade em seu conflito. Devemos treinar a mente para
conceber o estado de puro ser sem atributos ou atividades; podemos
pensar nele como a luz branca cegante, não diferenciada em raios pelo
prisma da forma; ou como a escuridão do espaço interestelar, que é nada,
embora contenha as potencialidades de todas as coisas. Esses símbolos,
sobre os quais repousa o olho interior, constituem um auxilio mais
proveitoso para a compreensão de Kether do que todas as definições da
filosofia exata. Não podemos definir a Sephirah Kether; só podemos
indicá-la.
5. Constitui sempre uma experiência iluminadora descobrir o
extraordinário significado das pistas contidas nas tabelas de
correspondências, e o modo pelo qual elas conduzem a mente de um
conceito a outro. A Primeira Sephirah chama-se Coroa, não cabeça,
note-se. A Coroa é um objeto que se põe sobre a cabeça, a esse fato nos
dá uma clara indicação de que Kether pertence ao nosso Cosmo, embora não
esteja nele. Descobrimos também a sua correspondência microscómica no
Lótus das Mil Pétalas, o chakra Sahamsara, que se localiza na aura,
imediatamente acima da cabeça. Penso que isso nos ensina claramente que a
essência espiritual mais íntima de alguma coisa, seja no homem ou no
mundo, nunca está na manifestação real, sendo antes a base ou raiz
subjacente de onde tudo brota a pertencendo, na verdade, a uma dimensão
diferente - a uma ordem diferente de ser. Esse conceito dos diferentes
tipos de existência é fundamental para a filosofia esotérica a devemos
tê-to sempre presente quando consideramos os reinos invisíveis do mago
ou do ocultista prático.
6. Na filosofia vedanta, Kether equivaleria
sem dúvida a Parabrahmâ; Chokmah, a Brahman; a Binah, a Mulaprakriti.
Nos outros grandes sistemas do pensamento humano, Kether equivale ao seu
conceito primário, correspondendo ao Pai dos Deuses. Se foram estes que
criaram o universo no espaço, então Kether é o Deus do céu. Se o
universo se originou na água, Kether é o oceano primordial. Kether
relaciona-se sempre com o sentido do informe a do eterno. Os deuses de
Kether são deuses terríveis que devoram suas crianças, pois Kether,
embora seja o pai de todos, reabsorve o universo ao final de uma época
de evolução.
7. Kether é o abismo donde se originam todas as coisas, a
para onde estas voltarão ao final de sua era. Nos mhos exotéricos
associados a Kether,
descobrimos, por conseguinte, a implicação da
não-existência. Nos conceitos esotéricos, contudo, aprendemos que esse
conceito é errbneo. Kether é a forma mais intensa de existência, ser
puro, não-limitado por forma ou reação; mas essa existência pertence a
um tipo diverso daquele a que estamos acostumados, aparecendo-nos,
portanto, como não-existência, porque não combina com nenhum dos
requisitos que a nosso ver determinam a existência. A idéia da
existência de outros modos de ser está implícita em nossa filosofia a
devemos tê-la sempre em mente, porquanto é a chave de Kether, a Kether é
a chave da Árvore da Vida.
8. O texto yetzirático descritivo de
Kether, como todos os dizeres da Sepher Yetzirah, é uma sentença oculta.
Afirma ele que Kether se chama Inteligência Oculta, a os diversos
títulos conferidos a Kether na literatura cabalística confirmam essa
denominação. Kether é o Segredo dos Segredos, a Altura Inescrutável, a
Cabeça Que Não É. Temos aqui novamente a confirmaçáo da idéia de que a
coroa está acima da cabeça do Homem Celestial, o Adão Cadmo; o ser puro
está atrás de toda manifestação, a não é por ela absorvido, sendo antes a
causa de sua emanação ou manifestação. Tal como nos expressamos em
nossas obras, assim se expressa Kether na manifestação. Mas as obras de
um homem não constituem a sua personalidade, sendo, ao contrário, a
expressão de sua atividade natural. Ocorre o mesmo com Kether; seu modo
de existência não é manifesto, mas constitui a causa da manifestação
9.
Temos até agora considerado Kether em Atziluth, isto é, em sua natureza
essencial a primordial. Devemos considerá-la agora tal como aparece nos
outros três Reinos distinguidos pelos cabalistas.
10. Cada Reino, ou
plano de manifestação, tem sua forma primária: a matéria, por exemplo,
é, com toda probabilidade, primariamente elétrica, a essa forma
primordial, segundo os esoteristas, consiste no subplano etérico que
subjaz aos quatro planos elementais: Terra, Ar, Fogo a Água; ou, em
outras palavras, os quatro estados da matéria densa: sólido, líquido,
gasoso a etéreo.
11. Os cabalistas concebem a Árvore em cada um dos
quatro Reinos, a saber: Atziluth, espírito puro; Briah, mente
arquetípica; Yetzirah, consciência imagética astral; a Assiah, o mundo
material em seus aspectos densos e mais sutis. As operaçáes das forças
de cada Sephirah são representadas em cada mundo sob a presidência de um
Nome Divino, ou Mundo do Poder, e esses mundos dão as chaves das
operações do ocultismo prático nos diversos planos. 0 Nome de Deus
representa a ação da Sephirah no Mundo de Atziluth, espírito puro;
quando o ocultista invoca as forças de uma Sephirah pelo Nome de Deus,
isso significa que ele deseja entrar em contato com sua essência mais
abstrata, pois está buscando o princípio espiritual que sustenta a
condiciona esse modo particular da manifestação. Reza uma máxima do
Ocultismo Branco que toda operação deve começar pela invocação do Nome
Divino na Esfera em que ocorrerá a operação. Isso assegura que a
operação estará em harmonia com a lei cósmica. Nunca se deve descurar o
equilíbrio da força natural, pois o equilíbrio é essencial para que o
mago conduza em segurança as operações de acordo com a lei cósmica; por
conseguinte, o mago deve procurar compreender o princípio espiritual
envolvido em cada problema a operá-to convenientemente. Toda operação,
por conseguinte, precisa ter sua unificaçâo ou resolução final em
Eheieh, o nome de Deus de Kether em Atziluth.
12. A invocação da
divindade sob o nome de Eheieh, isto é, a afirmação do ser puro, eterno,
imutável, sem atributos ou atividades, que tudo sustém, mantém a
condiciona, é a fórmula primária de toda operação mágica. Somente ao ser
penetrada pela compreensão desse ser imutável a sem fim, de
extraordinária concentração a intensidade, pode a mente ter qualquer
compreensão do poder ilimitado. A energia derivada de qualquer outra
fonte é uma energia limitada a parcial. A fonte pura de toda energia
localiza-se tão-somente em Kether. As operações do mago visando à
concentração da energia (e que operação não o faz?) devem sempre começar
por Kether, porquanto deparamos nessa Sephirah com a força emergente
que brota do Grande Imanifesto, o reservatório do poder ilimitado. É
graças a Kether, o Grande Imanifesto oculto atrás dos Véus da Existência
Negativa, que o poder tem origem. Se extrairmos poder de qualquer
esfera especializada da natureza, estaremos, por assim dizer, tirando de
Pedro para dar a Paulo. 0 poder vem de alguma parte a vai para algum
lugar, a deve ser responsável no ajuste de contas fmal. É por essa razão
que se diz que o mago paga com sofrimento o que obtém por meios
mágicos. Isso é verdade se sua operação é realizada em qualquer uma das
esferas inferiores da natureza; mas se tal operação tem início com
Kether em Atziluth, o mago estará extraindo força imanifesta para
colocá-la na manifestação; ele aumenta as fontes do universo e, desde
que as forças se mantenham em equilíbrio, nenhuma reação rebelde
ocorrerá, bem como nenhum pagamento em sofrimento pelo use dos poderes
mágicos.
13. Esse é um ponto de extraordinária importância prática. Os estudantes
aprenderam que as Três Sephiroth - Kether, Chokmah a Binah estão fora
do alcance de qualquer obra prática enquanto estamos encarnados. Na
verdade, elas estáo fora do alcance da consciência cerebral, a
constituem a base essencial de todos os cálculos mágicos. Se não
operamos a partir dessa base, não temos nenhum fundamento cósmico,
colocando-nos entre céu e a terra a não encontrando nenhum lugar de
repouso seguro. Devemos, ao contrário, manter a tensão mágica que mantém
vivas as formas astrais.
14. A grande diferença entre a ciência
cristã a as formas mais rudes do novo pensamento a da auto-sugestâo
consiste no fato de que a primeira inicia todas as suas operações pela
vida divina; e, por mais irracionais que sejam suas tentativas para
filosofar o seu sistema, seus métodos são empiricamente sãos. O
ocultismo, a especialmente o praticante da Magia Cerimonial, se não foi
instruído nessa disciplina, tende a começar sua operação sem qualquer
referência à lei cósmica ou ao princípio espiritual; conseqüentemente,
as imagens mentais que ele forma são como corpos estranhos no organismo
do Homem Celestial, ou Macrocosmo, a todas as forças da natureza se
dirigem espontaneamente para a eliminação dá substância estranha e para a
restauração do equilíbrio normal das tensões. A natureza luta contra o
mago com unhas a dentes; conseqüentemente, todo aquele que recorre à
Magia náo-consagrada jamais pode descansar sua espada, pois precisa
estar sempre na defensiva a fim de manter o que conquistou. Mas o adepto
que inicia sua obra com Kether em Atziluth, isto é, no princípio
espiritual, e opera esse princípio de cima para baixo a fim de
expressá-to nos planos da forma, empregando para esse propósito o poder
extraído do Imanifesto, integra sua operação no processo cósmico, e a
natureza se coloca a seu lado, em vez de hostilizá-lo.
15. Não
podemos esperar entender a natureza de Kether em Atziluth, mas podemos
abrir nossa consciência à sua influência, a esta é muito poderosa,
conferindo-nos uma estranha sensação de eternidade e imortalidade.
Podemos saber quando a invocação de Eheieh em seu puro esplendor branco é
efetiva, pois compreendemos, com completa convicção, a impermanência a
insignificáncia superior dos planos da forma e a supremá importância da
Vida única, que condiciona todas as formas, tal como as mãos do oleiro
moldam a argila.
16. A meditação sobre Kether confere-nos a
compreensão intuitiva de que o resultado de uma operação tem pouco
valor. "Que o sujo brinque com o sujo, se este lhe agrada." Uma vez
obtida essa compreensão, temos domínio sobre as imagens astrais a
podemos operá-las à vontade. É apenas quando o operador não tem
qualquer interesse pela operapão no plano físico que ele atinge esse
completo domínio sobre as imagens astrais. Só a manipulação das forças
lhe diz respeito, assim como a sua condução por meio da manifestação na
forma; mas ele não cuida da forma que as forças podem finalmente
assumir, a as deixa por si mesmas, visto que assumirão a forma mais afim
a suas naturezas, sendo assim mais fiéis à lei cósmica do que a
qualquer desígnio que seu limitado conhecimento poderia conferir-lhes.
Essa é a chave real de todas as operações mágicas, a sua única
justificativa, pois não podemos alterar o Universo para adaptá-to ao
nosso capricho a conveniência, mas só nos justificamos na operação
deliberada da Magia quando operamos com a grande maré da vida evolutiva a
fim de chegarmos à plenitude da vida, seja qual for a forma que a
experiência ou manifestação possa assumir. "Vim para que eles pudessem
ter vida, a para que a tivessem em abundáncia", disse o Senhor, a essas
poderiam ser as palavras do mago. Vida, a somente a vida, deveria ser a sua divisa, a não qualquer manifestação especializada dela como Sabedoria, Poder ou mesmo Amor.
17. Aqueles que seguiram atentamente a exposição precedente estarão
em condições de descobrir algum significado nas palavras criptográficas
do Texto Yetzirático atribuído a Kether. As palavras "Inteligência
Oculta" dão uma pista da natureza imanifesta da existência de Kether,
que é confirmada pela afirmação de que "Nenhum ser criado pode
alcançar-lhe à essência", ou seja, nenhum ser que utiliza, como veículo
de consciência, um organismo dos planos da forma. Quando,
contudo, a consciência foi exaltada ao ponto de transcender o
pensamento, ela recebe da "Glória Primordial" o "poder de compreensão do
Primeiro Princípio"; ou, em outras palavras, "Compreenderemos da mesma
maneira pela qual somos compreendidos".
18. Eheieh, Eu Sou 0 Que Sou, ser puro, é o Nome divino de Kether,e
sua imagem mágica é um velho rei barbado visto de pèrfil. 0 Zohar
afirma que o velho rei barbado só tem o lado direito; não vemos a imagem
mágica de Kether em sua face plena, isto é, completa, mas apenas
uma pane dela. Há um aspecto que deve sempre permanecer oculto para
nós, como o lado escuro da lua. Esse lado de Kether é o lado que está
voltado para o Imanifesto, que a natureza de nossa consciência manifesta
nos impede de compreender, a que constitui um livro selado
para nós. Mas, aceitando essa linútação, podemos contemplar o aspecto de
Kether, o perfil do velho rei barbado, que se reflete para baixo na
forma.
19. Velho é esse rei, o Antigo dos Antigos, o Velho dos Dias,
que existe desde o início, quando o rosto não contemplava rosto algum.
Ele é um rei, porque governa todas as coisas de acordo com sua suprema e
inquestionável verdade. Em outras palavras, é a natureza de Kether que
condiciona todas as coisas, porque todas as coisas surgiram dela. Ele é
barbado porque, no curioso simbolismo dos rabinos, todo pêlo de sua
barba tem um significado.
20. A manifestação das forças de Kether em
Briah, o mundo da mente arquetípica, efetua-se por meio do arcanjo
Metatron, o Príncipe das Faces, a quem a tradição atribui o papel de
mestre de Moisés. A Sepher Yetzirah afirma a respeito do Décimo Caminho,
Malkuth, que ele "emana uma influéncia do Príncipe dos Rostos, o
arcanjo de Kether, e é a fonte de iluminação de todas as luzes do
universo". Aprendemos, assim, claramente, que não apenas o espírito flui
para a manifestação na matéria, mas a matéria, por sua própria energia,
lança o espírito na manifestação. Esse é um importante ponto para o
praticante da Magia, pois afirma que este tem justificativas para as
suas operações a que o homem não precisa esperar a palavra do Senhor,
podendo invocar a Deus para ouvi-Lo.
21. Os anjos de Kether, operando
no Mundo Yetziático, são os Chaioth ha Qadesh, as Criaturas Vivas a
Sagradas, a esse Nome traz à mente a visão do Carro de Fogo de Ezequiel a
as Quatro Santas Criaturas diante do Trono. 0 fato de que os quatro
ases do Tarô, atribuídos a Kether, representam as raízes dos quatro
elementos, Terra, Ar, Fogo a Água, confirma igualmente essa associação.
Podemos, pois, considerar Kether como a fonte primordial dos elementos.
Esse conceito esclarece muitas das dificuldades ocultas a metafísicas
com que nos deparamos se limitamos sua operação ao plano astral a
encaramos os elementais como seres pouco melhores do que os demônios,
como parecem fazer algumas escolas de pensamento transcendental.
22. A
questão dos anjos, archons a elementais é um tema muito discutido a
muito importante no ocultismo, porque a sua aplicação prática à Magia é
imediata. 0 pensamento cristáo pode tolerar com algum esforço a idéia
dos arcanjos, mas os espíritos auxiliares, os mensageiros que são as
chamas do fogo a os construtores celestes são estranhos à sua Teologia;
Deus, sem ajuda a num átimo, fez os céus e a Terra. O Grande Arquiteto
do Universo é também o pedreiro. A ciencia esotérica pensa de modo
diferente. O iniciado conhece as legiôes de seres espirituais que são
agentes da vontade de Deus e os veículos da atividade criativa. É por
meio desses que ele opera, pela graça de seu arcanjo dirigente. Mas um
arcanjo não pode ser conjurado por nenhum encantamento, por mais
potente que este seja. Deveríamos mesmo dizer que, quando efetuamos uma
operação da Esfera de uma Sephirah particular, o arcanjo opera por meio
de nós para o cumprimento de sua missão. A arte do mago repousa, por
conseguinte, em alinhar-se à força cósmica, a fim de que a operação que
ele deseja realizar possa produzir-se como parte da operação de
atividades cósmicas. Se ele for verdadeiramente puro a devoto, esse será
o caso de todos os seus desejos; mas, se ele não for verdadeiramente
puro a devoto, não será então um adepto, a sua palavra não será uma
Palavra de Poder.
23. É interessante notar que, no Mundo de Assiah, o
título da Esfera de Kether é Rashith ha Gilgalim, ou Primeiros
Remoinhos, indicando, assim, que os rabinos estavam familiarizados com a
teoria das nebulosas antes que a ciência tivesse conhecimento do
telescópio. A maneira pela qual os amigos deduziram os fatos básicos da
cosmogonia graças a meios puramente intuitivos a mercé da utilização do
método de correspondências, séculos antes da invenção a aperfeiçoamento
dos instrumentos de precisão que permitiram ao homem moderno realizar as
mesmas descobertas de outro ângulo, será sempre um assunto de perpétua
perplexidade para todo aquele que estuda a filosofia tradicional sem
fanatismo.
24. Como em cima, tal é embaixo. O microcosmo corresponde
ao macrocosmo, a precisamos, por conseguinte, buscar no homem a Sephirah
Kether que está acima da cabeça que brilha com um puro esplendor branco
em Adão Cadmo, o Homem Celeste. Os rabinos a chamam Yechidah, a
Centelha Divina; os egípcios a chamam Sah; os hindus a chamam Lótus de
Mil Pétalas - o núcleo do espírito puro que emana as múltiplas
manifestações nos planos da forma, mas nelas não habita.
25. Enquanto
estivermos encarnados, jamais poderemos nos elevar à consciência de
Kether em Atziluth a reter o veículo físico intato antes de nosso
regresso. Tal como Enoch caminhou com Deus a desapareceu, assim também o
homem que tem a visão de Kether se desvanece no que respeita ao veículo
da encarnação. Isso se explica facilmente se nos lembrarmos que não
podemos entrar num modo de consciência a não ser reproduzindo-o em nós
mesmos, assim como uma música nada significa para nós a menos que o
coração cante com ela. Se, por conseguinte, reproduzimos em nós mesmos o
modo de ser daquilo que não tem forma nem atividade, segue-se que
devemos nos livrar da forma a da atividade. Se conseguirmos fazé-lo, o
que foi reunido pelo modo de forma da consciencia desaparecerá a voltará
aos seus elementos. Assim dissolvido, ele não pode ser reunido ao
retornar à consciência. Por conseguinte, quando aspiramos à visão de
Kether em Atziluth,
devemos estar preparados para penetrar na Luz a nunca mais sair dela.
26.
Lsso não implica ser o Nirvana aniquilação, tal como uma tradução
ignorante da filosofia oriental ensinou ao pensamento europeu; mas
também náo implica uma completa mudança de modo ou dimensão. 0 que
seremos, quando nos descobrirmos no mesmo nível das Criaturas Vivas a
Sagradas, não o sabemos, a ninguém que alcançou a visão de Kether em
Atziluth retomou para contar-nos; mas a tradição afirma que existem
aqueles que o fizeram, a que eles estáo intimamente relacionados com a
evolução da humanidade a são os protótipos dos super-homens, a respeito
dos quais todas as raças têm uma tradição - uma tradição que,
infelizmente, tem sido envilecida a degradada nos últimos anos pelos
ensinamentos pseudo-ocultistas. 0 que quer que seja que esses seres
possam ser ou não, é seguro dizer que eles não têm nem forma astral nem
personalidade humana, mas são como chamas no fogo que é Deus. 0 estado
da alma que atingiu o Nirvana pode ser comparado a uma roda que perdeu
seu aro a cujos raios penetram e interpenetram toda a criação; um centro
de radiação, a cuja influência não se pode determinar um limite, exceto
o de seu próprio dinamismo, a que mantém a sua identidade como um
núcleo de energia:
27. A experiência espiritual atribuída a Kether é a
união com Deus. Esse é o fim e o objetivo de toda a experiência mística
e, se procurarmos qualquer objetivo, seremos como aqueles que edificam
uma casa no mundo da ilusão. Tudo o que pode reter o místico em seu
caminho direto para esse objetivo produz-lhe a impressão de um grilhão,
que o prende, e, que, como tal, deve ser quebrado. Tudo aquilo que
sujeita a consciência à forma, todos os desejos que não sejam o da união
com Deus são males para ele e, desse ponto de vista, ele está certo;
agir de outra maneira invalidaria sua técnica.
28. Mas essa não é a
única prova que o místico deve enfrentar; exigese-lhe que satisfaça os
requisitos dos planos da forma antes de estar livre para começar sua
retirada a escapar da forma. Há o Caminho da Mão Esquerda que conduz a
Kether, a Kether das Qliphoth, que é o Reino do Caos. Se o adepto
aspirante se aventura pelo Caminho Místico prematuramente, é para lá que
ele vai, a não ao Reino da Luz. Para o homem que é naturalmente do
Caminho Místico, a disciplina da forma é incompatível. E uma das mais
sutis tentações é abandonar a batalha da existência na forma, a qual
resiste ao seu domínio, a retirar-se pelos planos antes que o nadir
tenha sido atravessado a as lições da forma tenham sido aprendidas. A
forma é a matriz na qual a consciência fluídica é mantida até adquirir
uma organização à prova de dispersão; até tomar-se um núcleo de
individualidade diferenciada do mar amorfo do puro ser. Sea matriz for
quebrada muito cedo, antes que a consciência fluídica se tenha formado
como um sistema organizado de tensões estereotipadas pela repetição, a
consciência se retrairá para o amorfo, assim como a argila retomará à
lama se libertada do amparo do molde antes de ser queimada. Se há um
místico cujo misticismo produz incapacidade mundana ou qualquer tipo de
disposição da consciência, sabemos que o molde se quebrou muito cedo
para ele, a ele deve retomar à disciplina da forma até que a sua lição
tenha sido aprendida a sua consciência tenha alcançado uma organização
coerente a coesa que nenhum Nirvana possa destruir. Que ele corte lenha a
carregue água a serviço do Templo, se desejar, mas que não profane o
local sagrado com suas patologias a imaturidades.
29. A virtude
atribuída a Kether é a da consecução; a realização da Grande Obra, para
utilizar um termo pedido de empréstimo aos alquimistas. Sem a realização
não há consecução a sem consecução não há realização. Boas intenções
pesam pouco na escala da justiça cósmica; é por nossa obra completada
que somos conhecidos. Temos, é verdade, toda a eternidade para
completá-la, mas devemos fazê-to até o Yod final. Não há misericórdia na
justiça perfeita, a não ser a que nos permite tentar novamente.
30.
Kether, contemplada do ponto de vista da forma, é a coroa do Reino do
Esquecimento. A não ser que compreendamos a natureza vital da Pura Luz
Branca, sentiremos pouca tentação de lutar por essa Coroa que não é
dessa ordem de ser; e, se tivermos essa compreensão, entáo estaremos
livres da limitação da manifestação a poderemos falar a todas as formas
como quem realmente tem a autoridade para fazê-lo.
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