Título: Binah, Entendimento, (Em hebraico: Beth, Yod, Nun, Hé.)
Imagem Mágica: Uma mulher madura. Uma matrona.
Localização na Árvore: No topo do Pilar da Severidade, no Triângulo Supremo.
Texto
Yetzirático: A Terceira Inteligência chama-se Inteligência
Santificadora, Fundamento da Sabedoria Primordial; chama-se também
Criadora da Fé, a suas raízes são o Amém. É a mãe da fé, a fonte de onde
emana a fé.
Tftulos Conferidos a Binah: Ama, a Mãe estéril obscura. Aima, a Mãe fértil brilhante. Khorsia, o Trono. Marah, o Grande Mar.
NomeDivino: Jehovah Elohim.
Arcanjo: Tzaphkiei.
Coro Angélico: Aralim, Tronos.
Chakra Cósmico: Shabbathai, Saturno.
Experiência Espiritual: A visão da dor.
Virtude: 0 silêncio.
Vício: A avareza.
Correspondência no Microcosmo: 0 lado direito do rosto.
Stmbolos: 0 yoni. 0 Kteis. A Vesica Piscis. A taça ou o cálice. 0 Manto Extemo do Ocultamento.
Cartas
do Taró: Os quatro três: 7Yês de Paus: força estabelecida; Três de
Copas: abundância; Três de Espadas: dor; Três de Ouros: trabalhos
materiais.
Cor em Atziluth: Carmesim. Cor em Briah: Negro.
Cor em Yetzirah: Marrom-escuro.
Cor em Assiah: Cinza salpicado de rosa.
1.
Binah é o terceiro membro do Triãngulo Supremo, e a tarefa de
explicá-la será, ao mesmo tempo, extensa a simples, porquanto podemos
estudá-la à luz de Cholcmah, que a equilibra no Pilar oposto da Árvore.
Jamais poderemos entender uma Sephirah se a considerarmos em separado de
sua posição na Árvore, uma vez que essa posição lhe indica as relações
cósmicas; vemo-la em perspectiva, por assim dizer, a podemos deduzir
donde provém e para onde vai, que influências intervêm em sua criação, a
qual a sua contribuição para o esquema das coisas como um todo.
2.
Binah representa a potência feminina do universo, assim como Chokmah
representa a masculina. Como já observamos, são Positiva a Nega`tiva;
Força a Forma. Cada uma encabeça o seu Pilar, Chokmah no topo do Pilar
da Misericórdia a Binah no topo do Pilar da Severidade. Poder-se-is
pensar que essa distribuição é antinatural; que a Mãe deveria presidir a
misericórdia, e a força masculina do universo, a severidade. Mas não
devemos sentimentalizar essas coisas. ,Estamos tratando de princípios
cósmicos, não de personalidades; a mesmo os símbolos pelos quaffs eles
são apresentados dãonos boas indicaçbes, se temos olhos para ver. Freud
não teria discordado da atribuição de Binah ao topo do Pilar da
Severidade, pois ele tinha muitas coisas a dizer sobre a imagem da Mãe
Terrível.
3. Kether, Eheieh, Eu Sou, é puro ser, onipotente, mas não
ativo; quando um fluxo de atividade emana dele, chamamos essa atividade
de Chokrnah; é esse fluxo descendente de atividade pura que constitui a
força dinãmica do universo, a toda força dinâmica pertence a essa
categoria.
4. Devemos lembrar que as Sephiroth são estados, não
lugares. Sempre que existe um estado de ser puro a incondicionado, sem
partes ou atividades, esse estado se refere a Kether. Portanto é nesses
dez escaninhos de nosso fichário metafísico que podemos classificar as
idéias relativas a todo o universo manifesto, sem precisar remover
qualquer objeto, tal como surge à nossa compreensâo, do lugar que ocupa.
Em outras palavras, sempre que tivermos energia pura em funcionamento,
saberemos que a força subjacente pertence a áokmah; podemos ver, desse
modo, a identidade intrínseca, quanto ao tipo, de todos esses fenõmenos,
os quaffs, à primeira vista, parecem não apresentar nenhum vínculo
mútuo, pois aprendemos, graças ao método cabalístico, a referi-los, de
acordo com o seu tipo, às diferentes Sephiroth, podendo assim
correlacioná-los com todas as classes de idéias cognatas, de acordo com o
sistema de correspondências já explicado ante-
riormente. Esse é o
método que a mente subconsciente segue automaticamenie; cabe ao
ocultista treinar sua mente consciente na utilizaçáo desse mesmo método.
Podemos notar, a propósito, que esse método é sempre empregado quando
os indivíduos operam diretamente do subconsciente, como ocorre no gênio
artístico, no lunático, a durante os sonhos ou o trance.
S. Pode
parecer estranho ao leitor que essa digressão a respeito de Chokmah seja
incluída sob o cabeçalho de Binah, mas é apenas à luz de sua polaridade
com Chokmah que podemos compreender Binah; e, igualmente, teríamos
muito mais a acrescentar à nossa explicação de Chokmah agora que tomamos
Binah para compará-la. Os membros dos pares de opostos se esclarecem
mutuamente, a são incompreensíveis quando estudados em separado.
6.
Mas voltemos a Binah. Os cabalistas afirmam que ela é emanada por
Chokmah. Traduzamos essa afirmativa em outros termos. Reza uma máxima
oculta - que é, como acredito, confirmada pelas pesquisas de Einstein,
embora eu não tenha o conhecimento necessário para relacionar suas
descobertas com as doutrinas esotéricas - que a força jamais se move
numa linha reta, mas sempre numa curva tão vasta quanto o universo,
retomando eventualmente, por conseguinte, ao ponto de onde proveio, mas
num arco superior, visto que o universo progride continuamente.
Segue-se, portanto, que a força que assim procede, dividindo-se a
redividindo-se a movendo-se em ângulos tangenciais, chegará
eventualmente a um estado de tensões equilibradas e a alguma forma de
estabilidade - estabilidade que será outra vez perturbada no curso do
tempo quando novas forças frescas emanarem na manifestação a
introduzirem novos fatores para propiciar o necessário ajustamento.
7.
É esse estado de estabilidade - produzido pelas forças interatuantes
quando agem a reagem a chegam a um equilíbrio - que é a base da forma,
como é exemplificado no átomo, que é nada mais nada menos do que uma
constelação de elétrons, cada um dos quaffs é um vórtice ou um remoinho.
É a estabilidade assim obtida - a qual, note-se, é uma condição a não
uma coisa em si - que os cabalistas chamam de Binah, a Terceira
Sephirah. Sempre que existe um estado de tensões interatuantes que
produzem a estabilidade, os cabalistas referem esse estado a Binah. Por
exemplo, o átomo, sendo, para todos os propósitos práticos, a unidade
estável do plano físico, é uma manifestação do tipo de força Binah.
Todas as organizaçôes sociais sobre as quais pesa opresssivamente a mão
morta da estagnação, tal como a civilização chinesa antes da revolução,
ou nossas velhas universidades, estão sob a influência de Binah. A Binah
atribui-se o deus grego Kronos (que não é outro senão o Pai do Tempo) e
o deus humano Saturno. Observe-se a importância atribuída ao tempo, em
outras palavras, à idade, nas instituiçaes de Binah; só os cabelos
grisalhos são dignos de reverência; a capacidade por si só conta muito
pouco. Ou seja, apenas aqueles que são congeniais a Kronos podem obter
sucesso em tal ambiente.
8. Binah, a Grande Mãe, chamada às vezes de
Marah, o Grande Mar, é, naturalmente, a Mãe de Toda Vida. Ela é o útero
arquetípico por meio do qual a vida vem à manifestação. Tudo que fornece
uma força para servir a vida como um veículo provém dela. Devemos
lembrar, contudo, que a vida confmada numa força, embora seja capaz de
organizar-se a desenvolver-se, é muito menos livre do que era quando
ilimitada (embora também desorganizada) em seu próprio plano.
Incorporar-se numa forma é, por conseguinte, o início da morte da vida. É
uma limitação a um encarceramento; uma sujeição a uma constrição. A
forma limita a vida, aprisiona-a, mas, não obstante, permite-lhe
organizar-se. Visto desse ponto de vista da força livre, o
encarceramento numa forma é extinção. A forma disciplina a força com uma
severidade sem misericórdia.
9. O espírito desencamado é imortal;
não há nada nele que possa envelhecer ou morrer. Mas o espírito
encarnado vê a morte no horizonte tão logo o dia nasce. Podemos
compreender, portanto, quão terrível deve parecer a Grande Mãe quando
aprisiona a força livre na disciplina da forma. Ela é morte para a
atividade dinâmica de Chokmah; a força Chokmah morre quando conflui para
Binah. A forma é a disciplina da força; por conseguinte, é Binah a
cabeça do Pilar da Severidade.
10. Podemos conceber, assim, que a
primeira Noite Cósmica tenha ocorrido - primeiro Pralaya, ou submersão
da manifestação no repouso quando o Triãngulo Supremo encontrou
estabilidade a equilíbrio de força na emanação a organização de Binah.
Tudo era dinâmico antes, tudo era desenvolvimento a expansão; mas, com o
início da manifestação do aspecto Binah, houve um entravamento a uma
estabilização, e o antigo fluxo dinâmico a livre se deteve.
11. Que
esse entravamento - e a conseqüente estabilização - era inevitável num
universo cujas linhas de força sempre se movem em curvas, eis uma
conclusão inevitável. Se compreendermos que o estado Binah era a
conseqüência inevitável do estado Chokmah num universo curvilíneo,
entenderemos por que o tempo deve passar por épocas nas quaffs ou Binah
ou Chokmah tem o predomínio. Antes de as linhas de forças terem
completado seu circuito no universo manifesto a começado a retomar sobre
si mesmas a entrelaçar-se, tudo era Chokmah, dinamismo irrestrito.
Depois que Binah e Chokmah, como primeiro par de opostos, encontraram
o equilibrio, tudo era Binah, e a estabilidade era imutável. Mas
Kether, o Grande Emanador, continua a manifestar o Grande Imanifesto; a
força flui no universo, aumentando a soma da força. Este fluxo de força
rompe o equilíbrio a que se havia chegado quando Chokmah a Binah
atuaram, reatuaram a se detiveram. A ação e a reação começam novamente, e
a fase Chokmah, uma fase na qual predomina a força completa, se
sobrepõe à condição estática que é Binah, e o ciclo prossegue novamente
quando Kether, o emanador incessante, quebra o equilíbrio em favor do
princípio cinético que se opõe ao princípio estático.
12. Vemos,
assim, que, se Kether, a força de todos os seres, é concebida como o
supremo bem, como de fato deve ser, a que, se a natureza de Kether é
cinetica, e a sua influência se inclina inevitavelmente para Chokmah,
segue-se obrigatoriamente que Binah, o oposto de Chokmah, o opositor
perpétuo dos impulsos dinâmicos, seja vista como o inirnigo de Deus, o
demônio. Saturno-Satã é uma transição fácil; assim como
Tempo-Morte-Demônio. Nas religiões ascéticas como o Cristianismo e o
Budismo, encontra-se implícita a idéia de que a mulher é a raiz de todo o
mal, porque ela é a influência que sujeita o homem, por seus desejos, a
uma vida de forma. A matéria constitui, para ambas as fés, a antinomia
do espírito, numa dualidade etema não-resolvida. 0 Cristianismo
reconhece prontamente a natureza herética dessa crença quando ela lhe é
apresentada sob a forma do Antinomianismo; mas não compreende que seus
próprios ensinamentos a sua prática são igualmente antinomianistas
quando concebe a matéria como o inimigo do espírito, acreditando que,
como tal, ela deve ser vencida a ultrapassada. Essa crença infeliz
causou tantos sofrimentos humanos nos países cristãos quanto a guerra a
as pestes.
13. A Cabala ensina uma doutrina mais sábia. Para ela,
todas as Sephiroth são sagradas, tanto Malkuth quanto Kether, tanto
Geburah, o destruidor, quanto Chesed, o preservador. Ela reconhece que o
ritmo é a base da vida, não um progresso com um único movimento para a
frente. Se compreendêssemos melhor esse aspecto, evitaríamos muitos
sofrimentos, pois contemplaríamos as fases Chokmah a Binah como fases
mutuamente sucessivas, tanto em nossas vidas como nas vidas das naçôes, a
compreenderíamos o profundo significado das palavras de Shakespeare,
quando diz:
"There is a tide in lhe affairs of men
which taken at lhe flood leads on lhe fortune. "
[Existe uma maré nos assuntos dos homens
Que, se aproveitada quando sobe, conduz à ventura.]
14.
Binah é a raiz primordial da matéria, mas o pleno desenvolvimento da
matéria só pode ser obtido depois que alcançamos Malkuth, o universo
material. Veremos repetidamente, no curso de nossos estudos, que as Três
Supremas têm suas expressôes especializadas num arco inferior em uma ou
outra das seis Sephiroth que formam o Microprosopos. Essas Esferas têm
suas raízes na Tríade Superior, ou são os reflexos delas, a essas pistas
têm um significado profundo. Binah vincula-sea Malkuth como a raiz ao
seu fruto. Isso é indicado no Texto Yetzirático de Malkuth, que diz:
"Ela sentava-se no trono de Binah." É impraticável, por essa razão,
atribuir firme a seguramente os deuses de outros panteôes às diferentes
Sephiroth. Aspectos de Ísis encontram-se em Binah, Netzach, Yesod a
Malkuth. Aspectos de Osíris encontram-se em Chokmah, Chesed a Tiphareth.
Isso é muito claro na mitologia grega, em que se dão diferentes títulos
descritivos aos deuses e deusas. Por exemplo, Diana, a divindade lunar,
a caçadora virgem, era adorada em Éfeso como a deusa de muitos seios;
Vênus, a deusa da beleza feminina a do amor, tinha um templo em que era
adorada como a Vênus Barbada. Esses fatos ensinam-nos algumas verdades
importantes, instando-nos a buscar o princípio atrás da manifestação
multiforme, e a compreender que o mesmo princípio assume formas
diferentes em níveis diferentes. A vida não é tão simples como o
desinformado gostaria de acreditar.
15. 0 significado dos nomes
hebraicos da segunda e da terceira Sephiroth são Sabedoria a
Entendimento, a ambas as Esferas, curiosamente, opõem-se uma a outra,
como se a distinção entre os termos fosse de importância fundamental. A
Sabedoria sugere às nossas mentes a idéia do conhecimento acumulado, das
séries infinitas de imagens na memória; mas o Entendimento comunica-nos
a idéia da penetração de seu significado, o poder para perceber-lhes a
essência e a inter-relação, o que não está necessariamente implícito na
Sabedoria, tomada como conhecimento intelectual. Obtemos, assim, um
conceito de uma série extensa, uma cadeia de idéias associadas, em
relação a Chokmah, o que concorda pelo menos com o símbolo de Chokmah de
uma linha reta. Mas, em relação ao Entendimento, temos a idéia da
síntese, da percepção de significados que se produz quando as idéias são
relacionadas umas às outras, a superimpostas umas sobre as outras, em
séries evolutivas do denso ao sutil. Isso sugere novamente a idéia do
princípio unificador de Binah.
16. Estes sâo meios sutis da operação
mental, a podem parecer fantásticos àqueles que não estão acostumados
com o método de utilização mental do iniciado; mss o psicanalista os
compreende a os aprecia em seu verdadeiro significado, assim como faz o
poeta quando constrói suss torres nefelibatas de imagens.
17.0 Texto
Yetzirático destaca a idéia da fé, a fé que reside no entendimento, o
qual, por sua vez, é filho de Binah. Esse é o único local em que a fé
pode repousar adequadamente. Um cínico definiu a fé como o poder de
acreditar naquilo que sabemos não ser verdade, a essa parece ser uma
definiçáo bastante exata das manifestações de fé tal como aparecem em
muitas mentes não-instruídas, fruto da disciplina de seitas carentes de
consciência mística. Mas à luz dessa consciência, podemos definir a fé
como o resultado consciente da experiência superconsciente que não foi
traduzida em termos de consciência cerebral, a da qual, por conseguinte,
a personalidade normal não está diretamente consciente, embora, não
obstante, sinta-lhe, possivelmente com grande intensidade, os efeitos, a
suas reaçôes emocionais são, dessa forma, modificadas fundamental a
permanentemente.
18. À luz dessa definição, podemos ver como .as
raízes da fé podem de fato residir em Binah, Entendimento, o princípio
sintético da consciéncia. Pois há um aspecto formal da consciência,
assim como da substância, e consideraremos esse aspecto em detalhes
quando estudarmos Hod, a Sephirah básica do Pilar da Severidade de
Binah. Vemos, assim, mais uma vez, como as Sephiroth se
inter-relacionam, propiciando o esclarecimento de suas vinculações
mútuas.
19. A afirmação de que as raízes de Binah estão em Amém
refere-se a Kether, pois um dos títulos de Kether é Amém. Isso indica
claramente que, embora Chokmah emane Binah, não devemos nos deter aqui
quando buscamos as origens, mss devemos remontar à fonte de tudo que
brota do Imanifesto atrás dos Véus da Existência Negativa. Esse conceito
é claramente formulado pelo Texto Yetzirático de Chesed, que, falando
das forças espirituais, diz: "Elas emanam uma da outra, em virtude da
emanação primordial, a coroa superior, Kether."
20. Não devemos nos
confundir ou nos enganar a esse respeito pelo fato de o Texto
Yetzirático de Geburah declarar que Binah, o Entendimento, emana das
profundezas primordiais de Chokmah, Sabedoria. Binah está em Kether,
assim como em Chokmah, "mss de outra maneira". No ser puro, informe a
indiviso existem as possibilidades da força a da forma; pois, onde há um
pólo positivo, há necessariamente o aspecto correlato de um pólo
negativo. Kether está para sempre num estado de devir. Aliás, um
cabalista judeu me disse que a tradução correta de Eheieh, o Nome divino
de Kether, é "Eu serei", não "Eu sou". Esse devir constante não pode
permanecer estático; ao contrário, precisa pôr-se em atividade; a essa
atividade não pode permanecer para sempre sem correlações; ela precisa
organizar-se; cumpre chegar a um modo de equilíbrio entre as correntes.
Temos, assim, a potencialidade tanto de Chokmah quanto de Binah
implícita em Kether, pois, é bom repetir, as Sephiroth Sagradas não são
coisas, mss estados, e todas as coisas manifestas existem em um ou outro
desses estados, a contêm uma mescla desses fatores em sua constituição,
de modo que todo o universo manifesto pode ser classificado nos
escaninhos apropriados de nossa mente quando o hieróglifo da Árvore é aí
estabelecido. Na verdade, uma vez estabelecido a claramente formulado
esse hierógtifo, a mente o utiliza automaticamente, a os complexos
fenômenos de existência objetiva classificam-se em nosso entendimento. É
por essa razão que o estudante de ocultismo que trabalha numa escola
iniciática é instado a memorizar as principais correspondências das Dez
Sephiroth Sagradas e a não depender das tabelas de referência. Muitas
vezes já se objetou que isso é uma intolerável perch de tempo a energia,
a que a referéncia às tabelas de correspondências, tais como a dé 777,
de Crowley, é muito melhor. Mas a experiência prova que esse não é o
caso, a que o esoterista que se dedica a essa disciplina, e a repete
diariamente, como o católico reza o seu rosário, é amplamente
recompensado pela iluminação posterior que recebe quando sua mente
classifiça as inumeráveis mudanças a acasos da vida mundana na Árvore,
revelando, assim, o seu significado espiritual. Deve-se ter sempre em
mente que a utilização da Árvore da Vida não é apenas um exercício
intelectual; é uma arte criativa, no sentido literal das palavras; a que
as faculdades devem ser desenvolvidas na mente, assim como o escultor
ou o músico adquire a sua habilidade manual.
21.0 Texto Yetzirático
refere-se especificamente a Binah como a Inteligência Santificadora. A
santificação evoca a idéia do que é sagrado a posto à parte. A Virgem
Maria está intimamente associada a Binah, a Grande Mãe, a dessa
atribuição passamos à idéia daquilo que dá origem a tudo, mss retém a
sua virgindade; em outras palavras, daquilo cuja criatividade, não o
envolve na vida de sua criação, mss permanece à parte a atrás, como a
base da manifestação, a substãncia-raiz de onde surge a matéria. Pois,
embora a matéria tenha suas raízes em Binah, a matéria, não obstante,
tal como a conhecemos, é de uma ordem de ser muito diferente da Sephirah
Suprema em que reside sua essência. Binah, a influência primordial
formativa, criadora de todas as formas, está atrás a além da substãncia
manifesta; em ou-
tras palavras, é etemamente virgem. É a influência
formativa que subjaz a toda edificaçáo da forma, essa tendência de
curvar as linhas de força para correlacionar a alcançar a estabilidade,
que é Binah.
22. Essas duas Sephiroth básicas da Tríade Suprema são
expressamente referidas como Pai a Mãe, Abba a Ama, a suas imagens
mágicas são as de um homem barbado a de uma matrona, representando,
assim, não a atração sexual de Netzach a Yesod - que são representados
como donzela a adolescente -, mas os seres maduros que se uniram a
reproduziram. Devemos sempre fazer uma distinção entre a atração sexual
magnética e a reprodução, pois ambas são coisas muito diferentes, a não
constituem níveis ou aspectos diferentes da mesma coisa. Aqui está uma
importante verdade oculta que consideraremos no devido tempo.
23.
Chokmah a Binah representam, portanto, a virilidade e a feminilidade
essenciais em seus aspectos criadores. Como tal, não são imagens
fálicas, mas nelas se acha a raiz de toda força vital. Jamais
compreenderemos os aspectos mais profundos do esoterismo se não
entendermos o verdadeiro signiiicado do falicismo. Este nada tem a ver
com as orgias nos templos de Afrodite, que desgraçaram a levaram à
decadência a fé pagã dos antigos e causaram a sua queda; significa que
tudo reside no princípio da estimulação do inerte, mas potencial pelo
princípio dinâmico, que deriva sua energia diretamente da fonte de toda
energia. Esse conceito abrange tremendas chaves de conhecimento, a
constitui um dos pontos mais importantes dos Mistérios. É óbvio que o
sexo representa um aspecto desse fator; é igualmente óbvio que há muitas
outras aplicações concementes a ele que não são sexuais. Não devemos de
forma alguma permitir que nossos preconceitos sobre o sexo, ou uma
atitude convencional para com esse grande a vital assunto, nos façam
retroceder diante desse grande princípio da estimulação ou fecundação do
inerte potencial pelo princípio ativo. Aquele que assim se inibe não
está preparado para os Mistérios, sobre cujo portal estão escritas as
seguintes palavras: "Conhece-to a ti mesmo."
24. Esse conhecimento
não conduz à impureza, pois a impureza implica uma perda do controle que
permite às forças ultrapassarem os limites que a Natureza lhes impôs.
Aquele que não controla seus próprios instintos e paixões não é mais
apto para os Mistérios do que aquele que os inibe e dissocia. Fique bem
claro, contudo, que os Mistérios não ensinam o ascetismo ou o celibato
como um requisito, pois eles não concebem o espírito e a matéria como um
par de antinomias irreconciliáveis, mas, antes, como níveis diferentes
da mesma coisa. A pureza não consiste na emasculação, mas na manutenção
de diferentes forças em seus níveis a lugares adequados, a no
impedimento de invadirem a esfera alheia. Ela ensina que a frigidez e a
impotência constituem defeitos tão sérios como qualquer outro, devendo
ser consideradas como patologias sexuais, da mesma maneira que a
luxúria, que destrói seu objeto e o degrada.
25. Todas as relaçóes da
existência manifesta implicam a ação dos princípios de Binah a Chokmah
e, sendo o sexo uma perfeita representação de ambos, foi ele utilizado
como tal pelos antigos, que não se perturbavarrm pela nossa timidez
sobre o assunto, a tomavam suas metáforas do tema da reprodução da mesma
maneira livre pela qual tomamos as nossas da Biôlia. Pois para eles a
reprodução era um processo sagrado, a eles se referiam a ela, não com
grosseria, a sim com reverência. Se desejamos compreendê-los, devemos
nos aproximar de seus ensinamentos sobre a fonte da vida a da força
vital com o mesmo espírito com que eles se aproximaram delas, a ninguém
cujos olhos não estejam vendados pelo preconceito, ou que não permaneça
nas trevas lançadas por seus próprios problemas irresolvidos, pode
deixar de compreender que nossa atitude atual em face da vida seria mais
saudável a agradável se tivesse como fermento o bom senso e o
discernimento do paganismo.
26. Os princípios da masculinidade a da
feminilidade manifestos em Chokmah a Binah representam mais do que mera
polaridade positiva a negativa, atividade a passividade. Chokmah, o Pai
Universal, é o veículo da força primordial, a manifestação imediata de
Kether. É, na verdade, Kether em ação, pois as diferentes Sephiroth não
representam diferentes coisas, mas diferentes funções da mesma coisa,
isto é, força pura jorrando na manifestação, oriunda do Grande
Imanifesto, que está atrás dos Véus Negativos da Existência. Chokmah é
força pura, assim como a expansão da gasolina, quando esta se inflama na
câmara de combustão de um motor, é força pura. Mas, assim como essa
força expansiva se expandiria a se perderia se não houvesse um mecanismo
para transmitir seu poder, da mesma forma a energia não-direcionada de
Chokmah se irradiaria pelo espaço a se perderia se nada houvesse para
receber seu impulso a utilizá-lo. Chokmah explode como a gasolina; Binah
é a câmara de combustão; Gedulah a Geburah são os movimentos altemados
do pistão.
27. A força expansiva fornecida pelo combustível é energia
pura, mas náo poria um carro em movimento. A organização constritiva de
Binah é potencialmente capaz de fazê-lo, mas ela não pode fazê-to a não
ser pondose em movimento pela expansão da energia acumulada do vapor da
gasolina. Binah é potencialmente ilimitada, mas inerte. Chokmah é
energia pura, ilirrmitada a incansável, mas incapaz de fazer qualquer
coisa, exceto irradiar-se pelo espaço se nada houver que a detenha.
Mas, quando Chokmah age sobre Binah, sua energia é reunida a utilizada.
Quando Binah recebe o impulso de Chokmah, todas as suas capacidades
latentes são vitalizadas. Em suma, Chokmah fornece a energia, a Binah
fornece o motor.
28. Consideremos, agora, a masculinidade e a
feminilidade desse par de opostos supremo, conforme se expressam no ato
da geração. Os espermatozóides do macho tém uma vida brevíssima; eles
são as unidades de energia mais simples possfvel; assim que essa energia
se expande, eles se dissolvem. Mas o mecanismo reprodutor da fêmea, o
útero que gera a os seios que alimentam, são capazes de conduzir essa
vida transferida à sua própria vida independente; e, no entanto, todo
esse complexo mecanismo deve ficar inerte até que o estímulo da força
Chokmah o ponha em ação. A unidade reprodutora feminina é potenciahnente
ilimitada, mas inerte; a unidade reprodutora masculina é onipotente,
mas incapaz de produzir um nascimento.
29. Muitas pessoas pensam que,
sendo a masculinidade e a feminilidade, tal como as conhecem no plano
físico, princípios fixos detemiinados pela estrutura, o potente e o
potencial se limitam rigidamente aos seus respectivos mecanismos. Ora,
isso é um erro. Existe uma contínua altemação de polaridade sobre todos
os planos, exceto o físico. E, de fato, entre os tipos primitivos de
vida animal, há também uma alternãncia de polaridade no plano físico.
Entre os tipos superiores, especialmente entre os vertebrados, a
polaridade é fixada pelo acaso do nascimento, salvo as anomalias
hermafroditas, que só podem ser consideradas como patológicas, a em que
apenas um sexo é sempre funcionalmente ativo, qualquer que seja o
aparente desenvolvimento do outro aspecto. Um dos segredos mais
importantes dos Mistérios consiste no conhecimento dessa contínua
interação de polaridade. Não se trata, em absoluto, de homossexualidade,
que é uma expressão pervertida a patológica desse aspecto, que surge
como uma desordem de sentimento sexual quando a lei da polaridade
alternante não é corretamente compreendida.
30. Em suma, embora o
modo de reprodução no plano físico seja determinado em todos os
indivíduos pela configuração de seu corpo, suas reaçôes espirituais não
são tão fixas, pois a alma é bissexual; em outras palavras, em toda
relação de vida, somos às vezes positivos a às vezes negativos, conforme
sejam as circunstâncias mais fortes do que nós, ou sejamos nós mais
fortes do que as circunstâncias. lsso ressalta claramente do fato de que
Netzach (Vênus-Afrodite) é a Sephirah basal do Pilar de Chokmah. Vemos,
assim, que a natureza feminina apresenta uma polaridade diferente em
níveis diferentes, pois em Netzach ela é tão positiva a dinâmica como em
Binah é estática.
31. Tudo isso não é apenas desconcertante do ponto
de vista intelectual, mas também muito confuso moralmente; e, mesmo sob
risco de ser acusada de encorajar de todas as maneiras as
anormalidades, devo tentar esclarecer o assunto, pois suas implicaçôes
práticas são de grande alcance.
32. Afirmam os rabinos que toda
Sephirah é negativa em relação à que lhe é superior a que a emanou, a
positiva em relação à que lhe é inferior e por ela emanada. Aqui está a
chave; somos negativos em nossas relações com o que apresenta um
potencial superior ao nosso, a somos negativos em nossas relações com o
que possui um potencial inferior. Essas relaçôes estão num perpétuo
estado de futuação, o qual varia em cada ponto de nossos inúmeros
contatos com o meio em que agimos.
33. Na maior parte dos casos, a
relação entre um homem a uma mulher não é inteiramente satisfatória para
nenhuma parte, a eles devem resignar-se a uma satisfação incompleta em
suas relações sob a compulsão da pressão religiosa ou econômica, ou
suprir de alguma forma a sua insatisfação, tendo como resultado a
recorrência das condições anteriores, quando a novidade perdeu seu
interesse. Deve-se observar que, sob tais circunstâncias, a cuhninação
da satisfação sexual acha-se apenas na novidade, a esta é uma coisa que
precisa ser constantemente renovada, com o conseqüente resultado
desastroso para a economia sexual.
34.0 problema reside no fato de
que, embora o macho forneça o estímulo físico que leva à reprodução, não
é ele capaz de compreender que, nos planos intemos, em virtude da lei
da polaridade inversa, é negativo, dependendo, para sua consecução, do
est,.mulo concedido pela fémea. Ele depende deia para a fertilidade
emocional, como se pode ver claramente no caso de uma mente altamente
criativa, como Wagner ou Shelley.
3
5.0 matrimônio não é uma questâo
de duas metades, mas de quatro quartos, que se unem numa harmonia
equilibrada de fecundação recíproca. Binah a Chokmah são equilibrados
por Hod a Netzach. 0 homem tem deuses a deusas para adorar. Boaz a Jakin
são Pilares do Templo, a apenas quando unidos produzem a estabilidade.
Uma religiáo sem deuses está a meio caminho do ateísmo. Na palavra
Elohim encontramos a chave verdadeira. Elohim é traduzido por "Deus"
tanto na Versão Autorizada quanto na Revisada das Sagradas
Escrituras. Ela deveria ser traduzida, na verdade, por "Deus a Deusa",
pois é um substantivo feminino acrescido de uma terminação masculina de
plural. Esse é um fato incontrovertível, em seu aspecto lingüístico pelo
menos, e é de se presumir que os diversos autores dos livros da Bíblia
conheciam seu significado, a que não utilizaram essa forma, única a
peculiar, sem alguma boa razão. "E o espírito dos princípios masculino a
feminino, conjunto, movia-se sobre a superfície do informe, e a
manifestação teve lugar." Se desejamos o equilrôrio, em lugar de nosso
presente estado de tensôes desiguais, devemos adorar a Elohim, não a
Jehovah.
36. A adoração de Jehovah, a não de Elohim, pode impedir-nos
a "elevação aos planos", isto é, a obtenção da consciência supranormal
como parte de nosso equipamento normal, pois devemos estar preparados
para mudar de polaridade enquanto mudamos de nível, pois o que é
positivo no plano físico torna-se negativo no astral, a vice-versa. Além
disso, como o trabalho oculto prático sempre invoca a utilização de
mais de um plano, seja simultaneamente, como na invocação, ou
sucessivamente, como quando correlacionamos os níveis de consciência
segundo o trabalho psíquico, o fator negativo precisa sempre ter seu
lugar em nossa obra, tanto subjetiva quanto objetivamente.
37. Isso
nos abre novos aspectos do assunto. Quantas pessoas compreendem que suas
próprias almas são literalmente bissexuais em si mesmas, e que os
diferentes níveis de consciência agem como macho a fêmea em suas
relações mútuas?
38. Freud declarou que a vida sexual determina o
tipo de toda a vida. É provável, no entanto, que a vida como um todo
determine o tipo da vida sexual; mas, para os propósitos práticos, sua
maneira de esclarecer o fato é verdadeira, pois, embora não se possa
endireitar uma vida sexual confusa operando-se sobre a vida como um todo
- por exemplo, nem a riqueza nem a fama são uma compensação adequada
para a repressão desse instinto fundamental -, pode-se endireitar todo o
padrão vital, desemaranhando-se a vida sexual. Esse é um assunto de
experiência prática a não precisa ser discutido a priori. É por essa
razão, sem dúvida alguma (aprendida pela experiência prática das
operações da consciência humana), que os antigos conferiam ao falicismo
uma parte tão importante em seus ritos. Atualmente, ele é um ponto muito
importante no aspecto cerimonial dos cultos modernos, mas o
reconhecimento do significado dos símbolos empregados tradicionalmente
foi reprimido pela consciência.
39. A psicologia freudiana fornece a
chave para o falicismo a abre uma porta que conduz ao Adytum dos
Mistérios. Não há como escapar a esse fato no ocultismo prático, por
mais desagradável que possa parecer a muitos; a isso explica por que
tantos empreendimentos mágicos são estéreis.
40. Esses assuntos
constituem segredos recônditos dos Mistérios, dos quais os modernos
perderam as chaves, mas a experiência da nova psicologia e a arte da
psiquiatria provaram abundantemente a solidez da base com a qual os
antigos fundamentaram sua adoração do princípio criativo a da fertWdade
como parte importante de sua vida religiosa. É uma experiência já
bem-estabelecida que a pessoa que dissociou seus sentimentos sexuais da
consciência não pode agarrar-se à vida em qualquer nível. Esse fato é a
base da moderna psicoterapia. No trabalho oculto, a pessoa inibida a
reprimida tende para as formas desequilibradas de psiquismo a
mediunidade, e é totalmente inútil para o trabalho mágico, onde o poder
deve ser dirigido e manipulado pela vontade. Isso não significa que a
total repressão ou a total expressão seja necessária para o trabalho
mágico, mas sim que a pessoa que se apartou de seus instintos, que sâo
suas raízes na Mãe Terra, a em cuja consciência há, por conseguinte, um
vazio, não pode abrir o canal através do qual a força, oriunda dos
planos, possa ser trazida à manifestação no plano físico.
41. Não
tenho dúvidas de que serei mal-interpretada por minha franqueza nesses
assuntos; mas, se alguém não se adiantar a enfrentar o ódio por falar a
verdade, como poderiam os verdadeiros investigadores descobrir seu
caminho para os Mistérios? Deveríamos manter na loja oculta a mesma
atitude vitoriana que foi abandonada por completo fora de seu recinto?
Al. guém precisa quebrar esses falsos deuses feitos à imagem de Mrs.
Grundy. Estou inclinada a pensar, contudo, que as perdas que poderíamos
sofrer nesse assunto serão bem pequenas, pois não seria possível treinar
ou cooperar com a espécie de pessoa que se assusta quando lhe falam
claramente. Não se pense também que estou convidando quem quer que seja a
participar comigo de orgias fálicas, como bem poderá alguém pensar.
Assinalo apenas que a pessoa que não pode compreender o significado do
culto fálico do ponto de vista psicológico não tem bastante inteligência
para participar dos Mistérios.
42. Tendo concedido um espaço
considerável à elucidação do princípio de Binah em seu trabalho na
polaridade com Chokmah, uma vez que não se pode compreendê-la de outra
maneira, sendo ela essencialmente um
princípio de polaridade, podemos
considerar agora o significado do simbolismo atribuído à terceira
Sephirah. Esse simbolismo apresenta dois aspectos - o aspecto da Grande
Mãe e o aspecto de Saturno, pois ambas as atribuições são conferidas a.
Binah. Ela é a poderosa Mãe de Todos os Viventes, e é também o princípio
da morte, porquanto a forma precisa morrer quando cumpriu sua missáo.
Nos planos da forma, morte a nascimento são duas faces da mesma moeda.
43.
0 aspecto maternal de Binah expressa-se no título de Marah, o Mar, que
se lhe atribui. É um fato curioso que se represente Vénus-Afrodite
nascendo da espuma do mar a que a Virgem Maria receba dos católicos o
nome de Stella Mans, Estrela do Mar. A palavra Marah, que é a raiz de
Maria, significa também "amargura", e a experiência espiritual atribuída
a Binah é a Visáo do Sofrimento. Uma visão que evoca a imagem da Virgem
chorando aos pés da cruz, com o coração atravessado por sete punhais.
Lembremos também o ensinamento de Buda, segundo o qual a vida é
sofrimento. A idéia da submissão à dor e à morte está implícita na idéia
da descida da vida aos planos da forma.
44.0 Texto Yetzirático de
Malkuth, já citado, fala do Trono de Binah. Um dos títulos conferidos à
Terceira Sephirah é Khorsia, o Trono; a os anjos atribuídos a essa
Sephirah chamam-se Aralim, palavra que significa também Tronos. Ora, um
trono sugere essencialmente a idéia de uma base estável, um firme
fundamento sobre o qual o exercitador do poder tem o seu assento a do
qual não pode ser removido. É, na verdade, um bloco que suporta a ação
do retrocesso de. uma força, da mesma maneira que o ombro do atirador
suporta o recuo do rifle. Os grandes canhões, utilizados para disparos
de longa distância, precisam ser fixados a estruturas de concreto que
ofereçam resistência ao contragolpe da explosão da carga que impulsiona o
projétil, pois é óbvio que a pressão na culatra do canhão deve ser
igual à exercida na base do projétil quando se efetua o disparo. Essa é
uma verdade que nossos credos religiosos idealizadores estão inclinados a
ignorar, com o conseqüente enfraquecimento a debilitaçâo de seus
ensinamentos. Binah, Marah, a matéria, é a estrutura que empresta à
força vital dinámica uma base segura.
45. Da resistência à força
espiritual, como já observamos, provém a idéia do mal implícito, que é
tão injusta para com Binah. Isso se torna muito claro quando
consideramos as idéias que surgem em associação com Saturno-Cronos.
Saturno implica algo muito sinistro. Ele é o Grande Maléfico dos
astrólogos, a todo aquele que encontra uma quadratura de Saturno em seu
horóscopo considera-a como uma pesada aflição. Saturno é o resistente,
mas, sendo um resistente, é também um estabilizador a um testador que
não nos permite confiar nos'so peso àquilo que não o resistiria. É digno
de nota que o Trigésimo Segundo Caminho - que conduz de Malkuth a Yesod
e é o primeiro Caminho trilhado pela alma que se eleva - seja atribuído
a Saturnio. Ele é o deus da forma mais antiga da matéria. 0 mito grego
de Caos, que é simplesmente o nome grego para o mesmo princípio,
consideraria-o como um dos deuses mais velhos; ou seja, aqueles deuses que
criaram os deuses. Ele é o pai de Júpiter-Zeus, o qual se salvou graças
a um estratagema de sua máe, pois Saturno tinha o desagradável hábito
de comer suas crianças. Encontramos nesse mito novamente a idéia do
dador da vida e dá morte. Como já observamos, Saturno, com sua foice,
converte-se facilmente na Morte. É muito interessante notar as
reentráncias dessas cadeias de idéias associadas em relação a cada
Sephirah, pois não podemos deixar de ver como as mesmas imagens afloram
outra a outra vez em todas as cadeias de idéias que possuímos, mesmo
quando partimos de idéias aparentemente muito divergentes como mãe, mar a
tempo.
46. Cada planeta tem uma virtude a um vício; em outras
palavras, cada planeta pode estar, nas palavras dos astrólogos, bem ou
mal-aspectado, bem ou mal-exaltado. Não podemos passar pela vida sem
notar que cada tipo de caráter tem os vícios de suas virtudes; isto é,
suas virtudes, quando levadas ao extremo, tornam-se vícios. Ocorre o
mesmo com as sete Sephiroth planetárias; elas têm seus bons a maus
aspectos, de acordo com a proporção com que os apresentam; quando falta o
equilrbrio, em razão da força desequilibrada de uma Sephirah
particular, experimentamos as más influências dessa Sephirah; por
exemplo, Saturno devorara seus filhosi A morte começa a destruir a vida
antes que ela tenha cumprido suas funçôes. Nenhuma Sephirah, portanto, é
totalmente má, nem mesmo Geburah, que é a destruição personificada.
Todas são igualmente indispensáveis ao esquema das coisas como um todo, a
suas boas a más influências relativas dependem do papel que
desempenham, o qual não deve ser nem muito forte, nem muito débil, mas
equilibrado. A pouca influência de uma dada Sephirah conduz ao
desequilíbrio na Sephirah oposta. A influência em excesso torna-se uma
influência positivamente má - uma dose excessiva de veneno.
47. A
virtude de Binah é o Silêncio, a seu vício é a avareza. Vemos aqui,
novamente, a influência de Saturno tomar-se presente. Keats fala do
"Saturno de cabelos grisalhos, silencioso como uma pedra", a nessas
poucas palavras o poeta evoca uma imagem mágica da era a do silêncio
primordial da influência satumiana. Saturno é de fato um dos velhos
deuses a está relacionado ao aspecto mineral da Terra. Seu trono acha-se
nas rochas mais antigas, onde não cresce planta alguma.
48. É
costume dizer que o silêncio é uma das virtudes especialmente desejadas
nas mulheres. Seja como for, a não há dúvida de que a língua é a sua
arma mais perigosa, o silêncio indica receptividade. Se estamos calados,
podemos ouvir, a assim aprender; mas, se estamos falando, as portas de
entrada da mente estão fechadas. É a resistência e a receptividade de
Binah que são seus poderes principais. E dessas virtudes provém o vício,
que é constituído por seu excesso, a avareza, que nega em demasia a
retém até o que é dispensável. Quando isso acontece, precisamos da
generosa influência de Gedulah-Geburah, Júpiter-Marte, para destruir o
velho deus, o devorador de seus filhos, a reinar em seu lugar.
49. Os
símbolos mágicos de Binah são o Yoni e o Manto Exterior de Ocultamento.
Esta é uma expressão gnóstica, a aquele, um termo indiano, que indica
os genitals da mulher, a correspondência negativa do falo do homem. 0
termo Kteis, menos conhecido, é o termo europeu equivalente. Nos
símbolos religiosos hindus, o yoni e o lingam surgem com muita
freqüência, pois a idéia da força vital a da fertilidade são os motivos
principais de sua fé.
50. A idéia da fertilidade é o motivo principal
nos aspectos de Binah que se manifestam no mundo de Assiah, o nível
material. A vida não apenas penetra a matéria para discipliná-la, mas
também retira-se dela triunfahnente, aumentada a multiplicada. 0 aspecto
da fertilidade, equilibrando o aspecto Tempo-Morte-Limitação, é
essencial ao nosso conceito de Binah. 0 Tempo-Morte ceifa com sua foice o
trigo de Ceres, a ambos são símbolos de Binah.
51. A idéia do Manto
Exterior de Ocultamento sugere claramente a matéria, assim como o
esplendor envolvente do Manto Interno de Glória do princípio vital.
Ambas as idéias, reunidas, comunicam-nos o conceito do corpo animado
pelo espírito; o Manto Interno ou Glória Espiritual oculto de todos os
olhos pelo invólucro exterior da matéria densa. Mais a mais vezes,
enquanto meditamos sobre esses mistérios, encontramos a iluminação dessa
coleção aparentemente fortuita de símbolos atribuídos a cada Sepliirah.
Já vimos em nosso estudo que nenhum símbolo está só, a que toda
penetração da intuição a da imaginação serve para revelar as grandes
linhas de relaçôes entre os símbolos.
52. Os quatro três do baralho
do Tarô são as cartas atribuídas a Binah e, de fato, o número três está
intimamente associado à idéia da manifestação na matéria. As duas forças
opostas encontram expressão numa tercei. ra, o equilíbrio entre elas,
que se manifesta num plano inferior ao de seus pais. O triângulo é um
dos símbolos atribuídos a Saturno como deus da matéria mais densa, e o
triãngulo de arte, como é chamado, é utilizado nas cerimônias mágicas
quando o objetivo é evocar um espírito a fazê-to visível no plano da
matéria; para outros modos de manifestação, utiliza-se o círculo.
53.
0 três de paus chama-se Senhor da Força Estabilizada. Temos novamente
aqui a idéia do poder em equilíbrio, que é tâo característico de Binah.
Lembremos que Paus representa a força dinâmica de Yod. Essa força,
quando na esfera de Binah, cessa de ser dinâmica, consolidando-se.
54.
Copas é, essencialmente, a forma feminina, pois a copa, ou o cálice, é
um dos símbolos de Binah a está estreitamente relacionado com o yoni no
simbolismo esotérico. 0 Três de Copas está, portanto, em casa em Binah,
pois os dois grupos de simbolismo se completam mutuamente. 0 Três de
Copas, que é corretamente chamado de Abundância, representa a
fertilidade de Binah em seu aspecto de Ceres.
55.0 Três de Espadas,
contudo, chama-se Sofrimento, a seu símbolo no baralho de Tarô é um
coração transpassado por três punhais. Nossos leitores lembrarão a
referência ao coração apunhalado da Virgem Maria no simbolismo católico,
a Maria equivale a Marah, a amargura, o Mar. Ave, Maria, stella maris!
56.
As Espadas são, naturalmente, cartas de Geburah e, como tal,
representam o aspecto destrutivo de Binah como Kali, a consorte de Siva,
a deusa hindu da destruição.
57. Ouros são as cartas da Terra e,
como tal, correspondem a Binah, a forma. 0 Três de Ouros, por
conseguinte, é o Senhor dos Trabalhos Materials, ou atividade no plano
da forma.
58. Notemos que, assim como os planetas têm sua influência
rèforçada quando estão nos signos do Zodíaco que são suas próprias
casas, também as cartas do Tarô, quando o significado da Sephirah
coincide com o espírito do naipe, representam o aspecto ativo da
influência; e, quando a Sephirah e o naipe representam influências
diferentes, a carta é maléfica. Por exemplo, a carta ígnea de espadas é
uma carta de mau augúrio quando se acha na Esfera de influência de
Binah.
59. Alonguei-me bastante ao comentar Binah, porque com ela se
completa a Tríade Suprema e o primeiro dos pares de opostos. Ela
representa não apenas a si mesma, mas também aos pares funcionais, pois é
impossível compreender qualquer unidade na Árvore, a não ser em
referência às outras unidades com que interage a se equilibra. Chokmah
sem Binah, a Binah sem Chokmah, são incompreensíveis, pois o par é a
unidade funcional, a não qualquer uma das Sephiroth em separado.
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