Introdução:
Este manifesto tem o interesse em
desenvolver a idéia pré-concebida do Satanismo e colocá-lo em franco
debate visando a sua lapidação e evolução intelectual.
Desde
Anton Szandor Lavey que a corrente de pensamento chamada “Satanismo
Moderno” têm “infernizado” o mundo com suas tendências anárquicas e
elitistas. Um novo homem tem acordado das profundezas da submissão, para
buscar através de suas próprias mãos e vontade a sua verdade.
O
que seria então este tão famigerado Satanismo? Este demônio da psique
humana, que perturba o sono e nos faz temer frente ao desconhecido?
Certamente
não é o Satanismo Cristão, cujo Satã remonta ao anjo caído popularizado
por Dante e postumamente polido por Milton e Blake... O Satanismo
Moderno se embasa primeiramente em certo escritor chamado Arthur
Desmond, mais conhecido como “Ragnar Redbeard”, um livre pensador
neozelandês que através de sua atividade política, de seus escritos
poéticos e devastadores (Might is Right) serviram de base para que Anton
Szandor Lavey constituísse a chamada “Bíblia Satânica”. Esta obra
reveladora e libertária traz uma reunião de duas principais forças para a
construção de uma filosofia firme e que até mesmo que poderia se dizer
religiosa, forças essas que seriam o dogma e o ritual. ¹
A Bíblia
Satânica, satiricamente assim denominada traria a tona uma reunião de
diversos ramos do conhecimento (desde filosofia, ciência até o
ocultismo) desmistificando toda a falácia e farsa criada pela Igreja
Católica Apostólica Romana em seu auge (Idade Média) sobre Deus, Diabo e
o Ser Humano.
Da Liberdade e Autocrítica:
Ao
entrar em contato com tal conhecimento agora exposto, o leitor já deve
ter percorrido uma longa estrada analítica e principalmente
experimental. O Satanismo apesar de estar calcado na porção
subconsciente/inconsciente humana como o representante do “Mal Absoluto”
tão bem articulado pela ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) e
demais instituições cristãs ao longo dos séculos em nada tem haver com
tal classificação. A título de plena desmistificação, encontramos nesta
filosofia a excelência humana em todos os sentidos. Desde o nascimento
até a sua morte, o Ser Humano se vê cercado de perigos, de novas
possibilidades e principalmente de inter-relacionamentos, estes últimos
fatores determinantes na sua escalada social, econômica e até mesmo
política. O que quero dizer com tais premissas? Simplesmente que a
liberdade inerente a ele deveria ser seu bem mais precioso. Livre
pensar, obviamente polido com intensa autocrítica, em direção a uma
sociedade anárquica*, não feita a partir de métodos totalitários e
violentos como já prediz Maquiavel em “O Príncipe” mas sim através da
consciência, ponderação e principalmente bom senso.
Certamente
ainda estamos bem longe disso e eu diria até mesmo em algum nível
utópico que tal “sociedade” já foi idealizada por diversos pensadores ao
longo dos séculos. Desde a Grécia antiga temos certos modelos
sócio-políticos (em teoria) que levariam uma comunidade a um
espaço-tempo completamente diferente da condição atual, iluminada pelo
conhecimento e pela sabedoria pura. Hoje em dia se temos algum sistema
sócio-político pelo qual nos orientamos, foi devido a esta herança
ancestral que nos foi legada.
Para se ter liberdade é necessário
auto-conhecimento, cujo qual consiste em um processo doloroso, lento e
gradual no qual permanecemos em constante observação subjetiva, nos
levando a metamorfosearmos-nos constantemente. Este estudo, nada mais é
do que se ter ciência das limitações, capacidades, qualidades e defeitos
que nos auxiliam na busca de um efetivo direcionamento para obtenção de
êxito pessoal e elevação intelectual. Esta caminhada certamente se dará
nas três esferas das quais se constitui uma sociedade (no aspecto
social, econômico e político). Apesar do Satanismo ser uma antítese em
si mesmo, justamente por ser considerado uma ameaça através do paradigma
judaico-cristão, podemos utilizá-lo na construção do que Nietzsche
conceituou “Übermensch” ou o então famoso Super-Homem.
Dogma e Ritual:
Forças
motrizes de qualquer religião, o Dogma e o Ritual constituem os
alicerces principais de sua filosofia. Dentro da concepção satânica é um
tanto quanto complicado tratar de regras e normas, uma vez que as
pessoas envolvidas com tal pensamento tendem a adotar uma postura
severamente anárquica e inconstante. Isso não significa que sejam
desprovidas de objetivo, muito menos de direcionamento ou até mesmo
conhecimento. Ao contrário, tais mentes ativas, estão sempre a refletir e
a se dilacerar em busca da perfeição ou simplesmente mero vislumbre de
tal condição. A sagacidade e impetuosidade satânica normalmente nos
levam a traçar um perfil altamente intelectual e satírico. O Satanista é
um verdadeiro camaleão, imerso nas profundezas da selva de pedra,
visando sua plena elucidação mental, física e espiritual. Ávidos pelo
conhecimento, pela matéria, pelo desconhecido e principalmente pela
eloqüência, característica essa essencial para o desenvolvimento da
magia, cuja qual caracteriza o Dogma e o Ritual.
Esta magia
(Magick) é justamente todo o ato em consonância com a Vontade capaz de
modificar a realidade ao nosso redor. Ela se dá quando o magista tem
plena ciência de sua capacidade e possui o conhecimento e as condições
necessárias para tal feito. Quando estamos imersos em atividade
meditativa, que requer concentração, controle e direcionamento, estamos
desempenhando uma atividade mágica. O que então irá diferir a mágica do
Ritual?
Muitos filósofos ocultistas dividem a magia em 2
parâmetros: Baixa magia e alta magia. O primeiro seria característico de
feitos considerados pequenos e de utilização dentro da esfera material
como por exemplo: Uma presença marcante, um olhar sedutor, uma aura
sensual. Por outro lado o 2º tópico trataria de feitos para além do
empírico (alteração de consciência, vislumbre de outras dimensões,
evocação de seres praeter-humanos, etc...) Onde quero eu chegar com
todas essas colocações? Simplesmente que a pessoa que se dispõe a
praticar magia, deve estar preparada para tal. Esta preparação envolve
estudo, prática e condições necessárias para que tal ato funcione. A
filosofia deve estar de mãos dadas com os feitos que desejamos que sejam
alterados ao nosso favor e principalmente devemos saber controlar a
ânsia pelo resultado, que normalmente é responsável por 90% das falhas
neste aspecto. O Dogma seria o script a ser seguido, ou seja, a
organização, a metodologia, a teoria, obviamente passível de
questionamento e principalmente de mudanças, através do tempo, da
lapidação e principalmente dos resultados. Como tudo na vida, como diz o
aforismo latino “Ora Et Labora”, devemos teorizar e praticar para
obtermos resultados plausíveis e assim analisarmos e levarmos tal
pensamento à frente. Fugindo um pouco da racionalidade, apesar de que
alguns teóricos chegaram muito perto de uma síntese do que seria tal
Ritual em suma, esta performance considerada “mística” nada mais é do
que um ardil de nossa própria mente para alcançar os próprios
resultados. Uma vez que nosso pensamento emite impulsos elétricos, ou
seja energia, nada impede que este mesmo seja responsável pela
transformação da matéria que também por sua vez é constituída deste
mesmo princípio. Assim sendo, através do que é considerado “Psicodrama”,
encontramos uma maneira extremamente eficaz de contextualizar essa
vontade de mudança e torná-la uma realidade.
"Gnosis":
A
"Gnosis" nada mais é do que a energia que permeia o universo, um
manancial infinito de poder que se corretamente acessado, pode nos levar
a alcançar grandes feitos, ou como preferirem estados alterados de
consciência. A definição vulgar da palavra significa conhecimento, mas
sabemos que para alcançar tal condição é necessária vivência tanto em
âmbito teórico quanto prático.
Para que serve esta "Gnosis"? O que exatamente a definiria?
Em
minha opinião a "Gnosis" é energia, na definição elementar da palavra,
uma essência que é responsável pela constituição da matéria e das outras
dimensões. Ela serve justamente para nos remeter a este propósito, para
nos vincular, ou melhor religar-nos com um princípio existencial,
absoluto que de certa maneira rege o cosmo. Gosto de intitulá-lo mesmo
que paradoxalmente de CAOS.
Através dela podemos nos elevar da
simples condição Homo Sapiens Sapiens (ou apenas meros animais
racionais), para além do empiricismo e das amarras do Ego. Certamente um
atalho para o Self e para a autodivinação, para aquele que aprendeu a
utilizá-la em proveito próprio.
Normalmente alcançamos esta
"Gnosis" num momento de intensidade, na maior parte das vezes
inconscientemente. Ao viajarmos para uma localidade de natureza
abundante, onde iremos nos sentir "purificados"; no calor das emoções,
quando pudermos experimentar sentimentos profundos como prazer,amor,
ódio, raiva... Ao realizarmos atividades que nos sejam extremamente
gratificantes normalmente ligadas à arte... Apenas no Ritual e na
Meditação esse alcance será feito conscientemente. Com a meta
pré-estabelecida, iremos criar uma condição ambiente para nos
proporcionar este acesso, elevando nossas capacidades empíricas ao que
pode caracterizar estado "Alfa".
Conhecimento:
Não
há nada mais excelso nessa vida do que o conhecimento. Só ele pode nos
trazer o discernimento e a maturidade necessária para podermos
compreender e direcionar nossa Vontade. Mesmo assim, devemos perceber
que hoje em dia dividimos este conceito em dois tópicos extremamente
controversos: O conhecimento apenas no âmbito teórico e o conhecimento
com plena vivência e aplicação. O primeiro, cujo qual é o mais empregado
atualmente, principalmente após a profissionalização do saber, está
reduzido a um grau de pobreza terrível pois normalmente está sendo
utilizado para sobrevivência e não com a virtude de elevar-nos a uma
condição mais altiva de existência. Já com relação ao segundo tópico,
temos a plena aplicação de uma idéia interiorizada, o que faz com que
essa mesma idéia inicialmente pré-concebida nos livros, ganhe uma forma
prática através da ação cotidiana, levando-nos a questionar sua
veracidade e principalmente lapidá-la pelo nosso senso crítico... Assim
sendo o saber passa a se tornar algo límpido, filtrado e profundamente
analisado, para que possamos dar vazão ao mesmo na forma que melhor nos
convenha, como por exemplo: Arte, Ciência ou Filosofia. Como nos diz o
aforismo do Oráculo de Delfos “Conhece-te a ti mesmo”, este conhecer
deve ser utilizado justamente com esta proposta, de buscarmos a
compreensão do porque e principalmente para que estamos aqui.
Hipocrisia e Auto-Engano:
Dizem
que o Ser Humano é um ser social... Eu sou obrigado a discordar de tal
afirmativa, reiterando que o Ser Humano é um animal sociável quando
quer...
Nos momentos de solitude, ou seja, quando estamos imersos
em nossos próprios pensamentos, somos movidos pelos desejos mais
obscuros e pela individualidade que nos é latente desde o momento de
nosso nascimento até a nossa morte.
Ter objetivos em comum,
encontrar pessoas com pensamentos afins faz parte de nossa vida, assim
como os processos que envolvem nosso crescimento e relacionamentos
biológicos. Logo, por afinidade tendemos a nos unir (em âmbito
intelectual e fisiológico), buscando a lapidação e a troca, desde que a
mesma seja em nosso benefício próprio: obtendo prazer, poder, amor,
reconhecimento, sejam quais forem os interesses envolvidos.
Obviamente
a coisa toda não é assim tão romântica e muito menos tão bela... Para
alcançar o que está em nosso âmago, ou simplesmente darmos vazão a
nossos desejos, somos capazes dos atos mais hediondos e grotescos, que
envolvem traição, morte, chantagem, tortura e principalmente o que vamos
conceituar "vampirismo". Todos esses elementos podem ser encontrados em
todas as manifestações humanas, sejam elas a arte, religião até mesmo a
ciência.
Para o Satanista temos dois termos severamente
reprováveis que de certa maneira estão ligados às questões tratadas
acima: A Hipocrisia e o Auto-Engano.
Através da hipocrisia a
pessoa cospe em tudo aquilo que ela pensa ou sente no seu íntimo,
expondo ao mundo justamente o oposto que deveria mostrar. Vamos tratar
desse tópico através de alguns exemplos: Imagine que no seu íntimo você
queira viver intensamente, cheio de sonhos, aspirações, vontades,
realizações, mas na prática você justamente ruma para o caminho
contrário... Se deixa abalar pelas mazelas da realidade, abdica de seus
sonhos para se escravizar na alienação mundana, deixa com que a
sociedade pense por você...
Vestir essa roupagem é a caminhada
certa para uma vivência completamente pobre e infeliz,uma vez que a
chama verdadeira que queima no seu interior, irá sempre flamejar em
direção contrária... Assim sendo devemos refutar tal hipocrisia ao
máximo, vivendo de acordo com nossos ideais e nossos desejos, trilhando
uma caminhada de sucesso e vitórias,elevando sempre nossos pensamentos,
buscando desafios que nos testem e nos aprimorem, livrando-nos da
conformidade e da banalização, frutos oriundos de uma moral
judaico-cristã, que justamente é embasada na hipocrisia e no
auto-engano...
Fazendo uma alusão aos pensadores do Morte Súbita, o que poderíamos
esperar de uma religião cujo principal alicerce é a plena submissão de
seus devotos à uma divindade tirânica e temperamental? Uma sociedade que
possui suas raízes em tais preceitos certamente estará fadada a tal...
uma educação escravocrata permeada de elementos judaico-cristãos estará
justamente “produzindo“ seres calcados em tais premissas.
Notas:
O termo DOGMA está ligado à ideologia, ou conjunto de princípios
que servem de base à um sistema religioso, político, filosófico,
científico, entre outros.
São verdades absolutas que não permitem
a discussão. São um conjunto lógico, sitemático de representações
(idéias, valores) e de normas ou regras (de conduta) Indicam ou
prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem
pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem
sentir, fazer e como.
Possui caráter prescritivo, normativo,
regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em
classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e
culturais.
Fonte - Texto de Fernando Guerra
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