Os traços mais primitivos de
Magia Sexual são encontrados na adoração pré-histórica da Grande Mãe,
cuja natureza era celebrada na mudança das estações e cuja presença era
experienciada através de fenômenos naturais. Esta forma primitiva de Magia
Sexual era basicamente animista e traços de seu simbolismo gerador e
religioso têm sido encontrados e datados até por volta de 18 mil anos a.C.
nas paredes de cavernas do Paleolítico. Exceto por estes traços precoces,
os primeiros registros de adoração tântrica são encontrados numa região
conhecida como a Tartária.
A Tartária
Uma ideia predominante na
antropologia moderna é que a disseminação do pensamento e práticas Xamânicas
e Tântricas originaram-se de uma área central de difusão. A região mais
favorecida por aqueles que abraçam esta teoria é a do deserto de Gobi. Tal
deserto é uma terra de lendas e magia, era conhecida pela tradição como a
terra dos Tártaros ou Tartária. Embora haja pouca informação restante a
respeito deste título, menciona-se sobre a terra grega de Tartarus, que
existia nas areias profundas e sem sol além de Hades, para onde os Titãs
haviam sido banidos por um Aeon. Em sua 'Doutrina Secreta' Blavatsky sugere
que a Tartária era o lar da Grande Fraternidade Branca e que já havia sido
um grande mar continental, no centro do qual residiam os remanescentes da raça
que nos precedera e que detinha grande poder e sabedoria. Portanto, na
literatura Teosófica, a Tartária é vista como o ponto de difusão para a
sobrevivência de uma raça de uma época muito antiga.
Esta teoria não é apenas
encontrada na literatura teosófica, de fato muitas tradições sustentam
uma ideia similar e a lenda da Tartária em si mesma pode encontrar
paralelos nas lendas de Thule no misticismo nórdico, a fabulosa lenda de
Dilmun no pensamento sumério e a terra da Grande Fraternidade Branca, que
era conhecida como Agharti Shamballa. Shamballa é o título dado à Tartária
nas lendas do oriente, é dito que esta era a terra dos deuses, que
ensinaram a mais antiga Gnosis aos discípulos humanos. Uma estranha lenda
é também contada sobre o que aconteceu com Shamballa, é dito que uma
batalha irrompeu entre os praticantes do CMD de Shamballa e os praticantes
do CME de Agharti. Tal batalha teria durado vinte anos com o resultado do
desperdício das terras, restando o que vemos hoje no deserto de Gobi. A
sobrevivência do Tantra se deu com os Agharti indo viver no subsolo e
levando consigo os segredos, durante muitos anos fundindo os mistérios do
CMD e do CME e propagaram estes ensinamentos aos preparados através dos
antigos e secretos Tantras. Esta propagação de ensinamentos também tomou
lugar pela migração dos remanescentes destas fabulosas civilizações
através de Uddiyana.
A Uddiyana
A Uddiyana é uma região
localizada no vale Swat no norte do Afeganistão, acreditando-se ser esta a
região que recebera alguns dos remanescentes de Agharti, sendo também dito
que outros esconderam-se no subsolo para formar uma colônia nas profundezas
da terra. Em Uddiyana o ensinamento do Tantra floresceu e foi desenvolvido
numa fina arte, há rumores de que Uddiyana era governada por mulheres e que
era conhecida como Stri-Rajya, o reino das mulheres. Em Uddiyana foi usada a
sabedoria do Tantra com uma nova fúria religiosa, sendo a sabedoria secreta
ensinada através de um sistema de iniciação em graus em conclaves
fechados. Nestes conclaves eram praticadas as artes da adoração Fálica,
magia, tantrismo, YabYum, ritos heterossexuais e homossexuais e uma grande
variedade de outras formas de feitiçaria. Tsiuen Tsang (por volta de 650
d.C.) escreve sobre as seitas por ele encontradas em suas jornadas através
destas regiões. Ele nos conta sobre um mundo estranho de monastérios
regidos por mulheres, promiscuidade sexual, trabalho criativo e artes de
magia. A religião Uddiyana teve uma fantástica influência na formação
da filosofia tântrica, não apenas a espalhando para os reinos de Bengala e
Assam, onde estas artes foram finalmente refinadas para um novo nível de
sutileza, mas Uddiyana produziu uma longa lista de mestres e discípulos.
Algumas das mais notáveis 'crianças de Uddiyana' incluem Chang Tao Ling (+
200 d.C.), o fundador do Taoísmo moderno, Shenrab (+ 500 d.C.),
sistematizador da religião tibetana Bon Po e Matsyendra (+ 800 d.C.)
fundador da seita Natha.
Alquimia Sexual Chinesa
Os ensinamentos do Tantra
chinês tomam a forma de Alquimia Sexual, sendo sua origem não plenamente
determinada. Entretanto, a influência de dois mestres de magia, Hsuang Ti e
Lao Tse, teve o profundo efeito de trazer os ensinamentos do Tantra chinês
para um cânone mais organizado e refinado. Lao Tse foi o autor do Tao Teh
Ching e fundador do Taoísmo, sendo este um intrincado sistema de misticismo
baseado nas interações do Yin e do Yang, as duas energias cósmicas
opostas primais, ainda que complementares. Estas interações do Yin e do
Yang são tratadas no I Ching e formam a base do conhecimento terápico, mágiko,
místico, filosófico, do controle da respiração e das secreções, extensão
da saúde e outros aspectos do sistema chinês de alquimia. Embora possa ser
realmente difícil retratar a Lao Tse muita de 'sua' filosofia, sua vida
tornou-se uma lenda, sendo iluminador o estudo de seus ensinamentos. Chang
Tao Ling oferece um sistema centrado no entendimento sexual da alquimia
chinesa e esquematiza um programa detalhado de trabalho de fisiologia
sexual, ritualística e ocultismo.
A Religião Bon do Tibet
Há rumores lendários que um
dos portões da tribo remanescente de Agharti, agora vivendo dentro da terra
em cavernas subterrâneas, está no Tibet. O Tibet é uma nação de mágika
e ritualística, sendo a religião Bon a sobrevivente das práticas xamânicas
nativas na forma externa do Budismo. Foi primeiramente sistematizada por
Shenrab por volta de 300 d.C., que formou um sacerdócio tântrico e um cânone
autorizado. Há dez graus distintos no Sacerdócio Bon, sendo o décimo não
registrado e conhecido apenas pelos mais altos adeptos, enquanto que os
outros nove são abertos para a classe de sacerdotes genéricos. Embora eles
envolvam um sistema extremamente complexo de demonolgia e ritual, seu poder
não pode ser negado. As tradições do Bon cobrem um espectro completo de
prática oculta incluindo artes divinatórias, oráculos, exorcismo, evocação,
vampirismo, teorias post-mortem, como a do Bardö (o estado após a morte),
tratando de 360 formas de morte e muito mais. Em 750 d.C. uma revisão da
religião Bon tomou lugar sob a orientação de Padma Sambhava, o então príncipe
de Uddiyana. O Bon foi reorganizado numa linha com vários sistemas de
Tantra de Uddiyana e foi então formulado num sistema mais refinado de prática
mágika e tântrica. O Tantrismo no Tibet é associado com muitas artes
obscuras de feitiçaria e portanto afastado por muitas das seitas budistas
mais ortodoxas. Contudo, mesmo os Dalai Lamas envolveram-se em muitas de
suas práticas. O quinto Dalai Lama, por exemplo, que morreu em 1680 d.C.
estudou profundamente os mistérios do Tantra, sendo que muitas das suas canções
e poemas de amor ainda são estudados por muitos magos sexuais. Diz-se que
quando ele foi questionado a respeito de seu uso de ritos sexuais, ele disse
:
"Sim, é verdade que eu
tenho mulheres mas você que acha-me errado também as tem e a cópula para
mim não é a mesma coisa para você."
O Tantra na Índia
Há histórias de cultos fálicos
primevos e ritos de fertilidade na Índia, entretanto, até a migração dos
Uddiyana via Kashmir e Himalaia para Deccan no sul e Bengala no leste, o
Tantrismo não havia realmente começado a firmar-se nas mentes e corpos do
povo hindu. Em Bengala a tradição do Tantra era a mais forte, que até
linhagens de reis, os Palas (760 - 1142 d.C.) e os Senas (1095 - 1119 d.C.)
fundaram um grande número de escolas e universidades tântricas. Durante
este período até mesmo as côrtes reais tinham seus astrólogos residentes
e altos sacerdotes tântricos, apenas no fim do século treze isto foi
destruído com as invasões de hordas muçulmanas.
Os mistérios tântricos,
contudo, ainda sobrevivem em várias seitas secretas e semi-secretas da Índia.
As duas mais importantes destas seitas tântricas budistas são a Kalachakra
(Culto da Roda de Kali) e a Vajrayana (Culto do Trovão). À parte de seitas
hindus, existem muitas, a tradição tântrica no hinduísmo é
excepcionalmente forte e toma uma grande variedade de formas, algumas destas
sendo os Shaivitas (Culto a Shiva), Shaktitas (Culto a Shakti), Sauras
(Culto a Shani ou Saturno), Kaulas (Culto a Kali) e os Ganapatyas (Culto a
Ganesha). Além disso, há várias derivações, por exemplo, dos Shaivitas
derivam os Lakulishas, que adoram Shiva como o senhor do cajado, e os
Pashupatas, que adoram Shiva como o senhor das bestas, cada uma enfatizando
diferentes facetas do mesmo sistema religioso.
Primórdios da Magia Sexual
Ocidental
Os ensinamentos do Tantra
vagarosamente passaram ao ocidente, sendo os registros mais antigos os
trabalhos de Edward Sellon por volta de meados do século XIX e os muitos
textos escritos por John Woodroffe. Sir John era um juíz de alto escalão
em Calcutá, que traduziu para o inglês a maioria dos textos originais de
tantrismo pela primeira vez. Vintras (1875), Boullan (1893) e Van Haecke
(1912) foram alguns dos mais velhos ocidentais a revelarem um completo
sistema de magia sexual. Seu sistema era baseado no uso de ritos sexuais em
conjunção com a criação de formas astrais, incluindo o que eles chamavam
de 'Humanimaux', elementares meio animal, meio humanos. Seu sistema
enfatizava a possibilidade de imortalidade através da sexualidade e usa um
largo espectro de técnicas sexuais. Vintras pode ser entendido como tendo
reavivado uma tradição ocidental esotérica de magia sexual, cuja origem
pode ser rastreada de volta ao Gnosticismo do primeiro século da era cristã.
Embora haja pouca imformação disponível parece que um sistema baseado
numa síntese de conhecimento mágiko e sexual da Tartária estava sendo
ensinado por várias fraternidades na região do Mar Morto. Estas
fraternidades, uma das quais era conhecida como 'os Essênios', estavam
envolvidas num sistema de magia muito parecido com os ensinados no Tibet e
na Índia. Já está demonstrado que Jesus foi iniciado numa destas
fraternidades e que muito do Gnosticismo original formou-se desta maneira.
Certamente os trabalhos de John Allegro decifram muito do Novo Testamento
através deste elemento tântrico. O problema é que os ensinamentos gnósticos
de Jesus foram suprimidos e um evangelho mais social foi colocado para o público.
Por sorte, contudo, o professor Ormus ( 6 d.C.) renovou o ensinamento da
doutrina tântrica e permitiu sua sobrevivência até quando os Cavaleiros
Templários e a Ordem de Sião tomaram esta tarefa. Outras ordens mais
tardias de orientação Rosacruz e Maçônica também levaram adiante o
ensinamento em segredo. O tantrismo de Randolph Paschal (1875) demonstra uma
mistura de tantrismo gnóstico e tártaro. Tendo viajado bastante,
desenvolveu um sistema ocidental de tantra, que mais tarde foi adaptado na
estrutura maçônica da OTO original.
O Trabalho de Gurdjieff
Gurdjieff viajou através das
regiões da outrora Suméria, da Mongólia e do Tibet e foi treinado pelo
mestre Karagoz, um dos últimos mestres remanescentes do Tantra da Tartária.
Após radicar-se em Paris, Gurdjieff desenvolveu e ensinou um sistema
baseado numa síntese de dança e misticismo Sufi bem como na Gnosis Tântrica
original. Seu comportamento sexual era selvagem e imprevisível, muito
parecido com seu contemporâneo Aleister Crowley. Seu sistema sobrevive
ainda hoje e oferece muito ao estudante de magia moderna.
Aleister Crowley e a O.T.O.
A Ordem do Templo do Oriente
foi formada em 1902 por Karl Kellner, baseada no arcano tântrico
esquematizado nos trabalhos de Randolph Paschal. A estrutura da ordem
utilizava um sistema de dez graus, os seis primeiros sendo maçônicos, com
o conhecimento sexual sendo revelado apenas nos quatro graus restantes e
mesmo neles, numa forma muito mais teórica que prática. Após um breve período
de existência veio a cair sob supervisão de Aleister Crowley, que inovou
seus ensinamentos de um misticismo pseudo-maçônico para uma Magia do Novo
Aeon. Ele também adicionou um grau extra, o décimo primeiro grau, de
acordo com certos requerimentos tântricos específicos. A nova OTO como
construída por Crowley marcou o ressurgimento da tradição original tântrica
da Tartária.
A história da OTO após seu
óbito parece extremamente confusa, deixando a impressão que ele assim o
quis, sendo seus estudantes desta maneira forçados a permanecerem 'em
terra'. Embora haja várias reclamações sobre o título da OTO, não é
nosso objetivo adentrar uma consideração sobre as várias reclamações de
validade, ou falta dela. Após o óbito de Crowley, um vórtice astral foi
criado para segurar o conhecimento da magia sexual. Este vórtice, escola ou
loja é conhecido como o Santuário Soberano Astrum Argentinum. Esta loja
tem muitos representantes físicos, embora qualquer um reclamando
autoridade, baseado em qualquer evidência, física ou astral, deve ser
duvidado. A Astrum Argentinum confirma o Tantra Tártaro bem como esquemas
de vários derivativos da magia sexual como encontrados nos sistemas hindu e
chinês. Esta corrente confirma os ensinamentos de Agharti e sua aparição
posterior no mito de Shaitan dos Yezidis e no Tantra Draconiano do Antigo
Egito.
A Magia Sexual obscura de
Agharti reapareceu novamente, num sistema que une técnicas tanto simbólicas
quanto físicas e que formula uma nova e pura ética baseada na beleza e
majestade do Santuário Mais Interno da Vontade.
Sua mensagem é clara, o
caminho da liberdade está contido dentro de nossas mentes e corpos, não há
necessidade em se olhar além!
Fonte de Pesquisa: Edson Bini, Magia Sexual - Editora Ícone - São Paulo,1994.
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