"Tantra -
escrituras (shastras) dos ensinos contidos nos diálogos entre o Senhor Shiva e
sua divina consorte, Parvati, destinados a ensinar o sadhana (método de
realização espiritual) apropriado aos homens da kali yuga (era das
trevas)."
Uma Síntese.
Vivemos numa
sociedade que nos últimos tempos tem evoluído rapidamente no sentido material,
porém no plano social não se pode dizer o mesmo, quanto mais sobre o ponto de
vista espiritual. Isso se dá pelo dogma ao qual a sociedade ocidental foi
imposta durante todo este tempo, onde se separa antagonicamente a matéria
(defendida pela ciência racionalista) e a espiritualidade (defendida pelas
religiões), dividindo assim o homem.
As antigas sociedades
não tinham essa visão, ou melhor, nem se preocupavam com isso, pois considerava
o homem um ser único formado por corpo, mente e espírito e como tal se desenvolvia
de forma integral e uniforme, eliminando toda forma de dualidade que limitam e
impedem o desenvolvimento do homem.
Encontramos na yoga e
em particular no Tantra Yoga, o mais antigo e completo sistema de integração do
homem, sendo considerada por muitos estudiosos a origem da tradição que veio
resultar nos sistemas hoje conhecidos como: Tarot, Cabala, Tao, Alquimia, além
das próprias ramificações da Yoga. Parece pretensão, mas pelo estudo do
significado do nome, damos o primeiro passo para essa afirmação.
Derivado do verbo
tantori (tecer), Tantra Yoga é um termo sânscrito que significa a essência ou
urditura daquilo que é tecido. Segundo outra versão, deriva da raiz Tan, que
quer dizer estender. Como os tantras também são conhecidos sob a designação de
agama, ou seja, tradição, teríamos como significado final "estender a
tradição".
Na realidade, o
tantrismo é a culminação de muitos séculos de experimentação yogui, envolvendo
corpo, mente e espírito, e pode ser visto como capítulo final de um longo processo
de assimilação e síntese das demais ramificações do yoga. Não é apenas um ramo
do yoga ou uma filosofia isolada, mas a rigor, uma fase na evolução dessa
civilização.
No sentido escrito
tradicional, o tantra está codificado dentro dos textos hinduístas e budistas,
que geralmente empregam uma linguagem bastante elaborada, difícil de ser
compreendida, sendo, vez ou outra, obscuros a respeito de pontos importantes.
Por esse motivo, antes de tentar a iniciação, recomenda-se ao principiante um
longo estudo sobre, este caminho.
O primeiro passo é
realizar uma revisão de nossos conceitos, principalmente no que diz respeito ao
valor da mulher e sobre a sexualidade. Predominantemente machista e possessivo,
nossa cultura obscurece e limita o desenvolvimento humano. Este mal de nossa
sociedade deve ser derrubado, pois são conceitos antagônicos aos do Tantra.
O que acharíamos se
nos falassem que na verdade Deus é feminino? Essa pergunta coloca em xeque-mate
a imagem que temos da mulher. Não precisamos aprofundar muito neste mérito para
ver que em outras culturas o ser gerador e criador do universo são
representados por uma Deusa (Deusa Gaia na mitologia grega). Não diferente
disto, o tantra postula que forças secretas, representadas por uma Deusa,
governam o universo se corporificando na mulher.
Para o tantrismo, a
chave está na mulher. Entender o que atua verdadeiramente no útero é
compreender o mistério do Universo, pois em toda mulher se manifesta o
princípio gerador da criação tomando-a uma deusa. Tal postura provavelmente
surpreenderia muita gente, já que os arquétipos religiosos mais comuns pintam a
mulher como aliada do "Diabo" ou algo semelhante.
Este medo em relação
à mulher é até compreensivo, pois a Deusa é representada sobre duas formas: a
luminosa na imagem da Deusa Shakti, amante mística de Shiva e a tenebrosa
quando simbolizada na terrível Deusa Kali, a devoradora de Homens. Porém
devemos entendê-lo como um aviso sobre a seriedade do tantra e não desculpa
para permitir a discriminação da mulher, como vemos em nossos dias.
Nas sociedades
matriarcais, que deram origem ao tantrismo hindu, não existem grandes
diferenças entre o homem e a mulher ou corpo e espírito. O tantra vê no corpo
humano um templo vivente sem distinção entre carne e espírito. Tudo interage
naturalmente em perfeita harmonia inclusive a sexualidade.
Nascemos crescemos e
nossos pais desempenham um papel fundamental em nosso desenvolvimento.
Naturalmente somos encaminhados às instituições de ensino para aprendermos mais
do que nossos pais possam nos ensinar e o mesmo ocorre a respeito da
religiosidade. Temos uma orientação para cada anseio de nossa alma, isso é
verdadeiro? A sexualidade, onde se encaixa? Na prática vemos uma lacuna no
processo natural do desenvolvimento humano, criando neuroses que acompanharão o
indivíduo até sua morte.
Para que se possa
entender a ideia tântrica é imprescindível que encaremos o tema do sexo
sacralizado sem preconceitos. O escândalo causado por uma prática religiosa
pornográfica por alguns ocidentais é incompreensível para o praticante do
Tranta-Yoga. Para ele, Deus é tudo, sendo que o caminho mais direto para à
experiência da Totalidade é a união amorosa, a união mística entre Shiva e
Shakti. O praticante, bem como quem conseguiu se libertar das correntes do
"pecado original", acredita que o sexo é absolutamente inocente.
Inocente, mas
revolucionário. Todos os ditadores, políticos e religiosos sabem disso e
preferem que o povo interiorize normas de rígido purismo, sendo incapaz de
pensar e atuar por conta própria. Ao invés de enriquecer a mente das pessoas
com as experiências libertadoras do sexo, os dirigentes empobrecem nossa
experiência sexual através de preconceitos castradores.
O objetivo do tantra
e de outros sistemas e realizar a fusão do Masculino com o Feminino, Shiva e
Shakti (Tantrismo), Yin e Yang (Taoísmo), Adão e Eva Cabala, Homem e Mulher, no
coito sagrado, tendo como finalidade última a aparição do andrógino, as
diferenças entre o homem e a mulher desaparecem numa espécie de transfiguração
interior na qual o "eu" dá lugar ao Uno indivisível, ao Tao, ao
lod-Shava.
Percebemos em cada
sistema que o segredo, a chave dos mistérios da vida eterna, dos céus e do
próprio Deus, gira em torno deste assunto. A alquimia nos dá uma lição clara
sobre este ponto quando diz em seu dogma central: "O Sol é o Pai, a Lua é
a Mãe, o vento gera tudo em seu útero, sobe da terra os céus e desce dos céus a
terra para o milagre da unidade". O próprio Jesus Cristo disse: "O
reino dos céus é como um casal de noivos que se deitam e se amam."
A energia sexual, o
corpo e a mente formam uma trilogia inseparável para o tantrismo. O Tantra
considera que cada célula é um ser vivente consciente, dotado de psiquismo,
emoções e memória. Qualquer uma de nossas células pode ser calma ou ansiosa,
estar em harmonia ou não com o resto do organismo.
Se o cérebro não tem
exclusividade sobre a consciência, que é propriedade de todo corpo, não existe
uma barreira real entre nossa consciência cerebral e nossas células. O que
existe é uma sequência hierarquizada de planos de lucidez ativados a partir do momento
em que a energia sexual começa a despertá-los. O praticante do Tantra simboliza
essa energia sob a forma de uma serpente, Kundalini, e os distintos planos de
lucidez são simbolizados pelos chacras.
Por fim deixo um
alerta, conforme Jesus disse: "O reino dos céus são das crianças".
Até que ponto é crianças, até que ponto tem inocência em nossos - corações,
pois a porta é baixa, estreita e dois anjos guardam a passagem com espadas de
fogo. O descuido, pode facilmente tomar a estrela de cinco pontas no bode de
Mendes e então a luminosa Shakti se transformará na tenebrosa Deusa Kali a
devoradora de homens.
Fonte: Iniciação ao
Yoga, José Hermógenes, Ed. Nova Era.
0 comentários:
Postar um comentário