O QUE É SER MÍSTICO?
Nos dias de hoje, quando se fala em
espiritualidade, muitos pensam logo na espiritualidade mística. Esta é uma
tendência mundial atual que tem a ver com uma mudança sutil que anda em curso
no Inconsciente Coletivo e acho que seria adequado iniciarmos essa postagem com
algumas definições anônimas a respeito da Mística:
O que é a Mística?
- "É a insistência de que tudo
o que é... não é tudo!”
- "É o engajamento na busca do
Deus-Mistério"
- "É a experiência de
Deus"
- "Místico é tudo aquilo ou aquele
(a) que, mediante a contemplação espiritual, procura atingir o estado de êxtase
de união direta com a divindade”
- "O místico é alguém que vive
do encontro pessoal com Deus"
- "O místico é aquele que
aspira a uma União pessoal ou à Unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de
Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo”...
Quando se trata de entender o que é
a Mística, não há muito que se explicar, não interessa o nome de quem falou,
onde está escrito.
Tudo que nos interessa, nesse caso, é a ideia em si e por si
mesma.
De qualquer modo, percebemos que as principais interpretações não se
anulam entre si, mas se complementam ou se aperfeiçoam.
Quando se pensa em buscar a
mística, logo se pensa em procurá-la no Budismo, no Hinduísmo ou no Sufismo,
entre outras tradições orientais.
Nem sequer cogitam buscá-la no Cristianismo,
e a “culpa” desse fenômeno é em grande parte das próprias igrejas, o que já é outra
longa história.
Porém, a mística estava presente na mensagem do Cristo desde o
princípio.
O alemão Karl Rahner, um dos mais
importantes teólogos do século XX, entende "um místico" como alguém
que não apenas "ouviu falar" de Deus ou leu a seu respeito em algum
lugar, mas, o experienciou, e o percebe, vivenciando-o.
Essa é uma bela
definição do ser místico.
Ele proferiu a famosa frase: “O cristão do futuro
será um místico, ou não existirá mais."
Os atuantes da Mística, desde que
estejam nesse caminho com uma real disposição e empenhados verdadeiramente na
Busca, passam por experiências semelhantes entre si.
Esses buscadores,
independente da religião que professem, não apenas se respeitam como também se
estimam uns aos outros, e não pensam em “converter-se” mutuamente.
E assim
vivem e interpretam suas experiências cada um a sua maneira, uma vez que há
interpretações bem diferentes de uma mesma realidade na Mística hinduísta, na
budista...
Não são poucos os que se definem
como "místicos" sem saber exatamente o que isso quer dizer.
Santo Agostinho, assim como C. G. Jung,
vê na identificação com uma imagem arquetípica o perigo da vaidade.
Ele
entendeu que, quando não levamos em conta as nossas reais necessidades, nós as
vivemos inconscientemente com maior intensidade.
E alerta para o risco dos que
se identificam com a imagem do "místico", viverem suas necessidades
de serem especiais, importantes, e muitas vezes o que está por trás desse
desejo ser a ânsia de serem notados e de se colocarem acima dos outros, o que
não demonstra ser um sentimento puro.
A Mística não é uma espécie de
posse, da qual possamos nos orgulhar, ou algo que nos envaideça por essa nossa
suposta qualidade de “pessoa mística”.
“Infelizmente, vejo essa tendência
hoje, em muitos que se afirmam místicos. Por isso, sempre tomo cuidado quando
alguém me pergunta se sou [um místico]. Estimo o caminho místico e realmente
procuro segui-lo. Todavia, nunca conclamarei ser [místico].” - Anselm Grün.
A verdadeira - Mística nasce
exatamente no lugar do nosso desespero, lá, onde nos desesperamos de nós
mesmos, porque nada nos sustenta mais e percebemos que nossa a existência não
tem fundamento por si mesma. Assim, temos dentro da nossa alma uma âncora, que
nos mantém firmes e nos faz “penetrar além do véu” (Hebreus 6:19).
O verdadeiro místico deve seguir
duas tendências:
A Mística da União e a Mística do Amor.
Sem dúvida, não se
pode separar nitidamente uma da outra; pois a Mística da União está
compenetrada de Amor, e na Mística do Amor trata-se da União com o Bem-amado
Cósmico.
Místicos vivem sempre a tensão
entre “o estar unido” e “o estar separado”, entre integração e dilaceramento.
Essa é a razão primeira de existirem as formas religiosas, as práticas, a
oração, a liturgia, a meditação, elementos do chamado Caminho de Volta, a
eterna saga do Filho Pródigo.
É a saga do místico sincero, do buscador da
Iluminação pessoal.
A mística grega antiga era,
sobretudo, uma Mística de União. O que aí se busca são experiências da Grande
Presença. Enquanto estou totalmente neste momento, - o Agora, - totalmente
unido com tudo o que existe, experimento, afinal, também a base de todo o ser:
Deus, que me compenetra como sendo o Ser verdadeiro e Único.
Na Mística da União visa-se a
experiência do ser puro.
Em silêncio, uno-me com Deus.
Em silêncio, torno-me Um
com Deus e, ao mesmo tempo, um com o momento atual, um comigo mesmo, com tudo
que existe, inclusive, com todos os meus semelhantes, sem ser maior ou menor,
apenas na igualdade, na união da mesma substância, unidos pelo sentimento puro
e divino do Amor.
Na Mística do Amor, vivenciamos na
alma o Amor Divino e, com verdadeiro sentimento místico, este Amor permanece no
ser e se multiplica. Sentimos no outro a mesma Presença, repleta do mesmo Amor.
Ser um com Deus é estar Nele, ter o "eu" dissolvido Nele, é estar
liberto do ego, dos apegos, do medo.
É manter-se em perfeita Harmonia com o
Deus Cósmico e Liberdade da alma.
Para Santo Agostinho, a mística consiste
em manter “acordada” e sempre viva a Saudade de Deus, na qual Ele se mantém
presente no coração humano:
“Se não quiseres interromper a
oração, então não interrompas a Saudade de Deus. A tua ininterrupta Saudade é a
tua voz de oração ininterrupta.” - Santo Agostinho.
Friedrich Nietzsche declarou que
“onde a saudade e o desespero se acasalam, há mística”.
Nietzsche entendeu algo da Mística,
ao combinar saudade com desespero.
A Mística não é algo que podemos exigir de
nós mesmos.
A Mística é, antes, sempre esse salto, do desespero da própria Alma
para dentro do Mistério inalcançável e Infinito, que acolhe, conforta e
ilumina.
Fonte:
Ponte Oculta - Imagem: Google...
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