Os Sistemas conhecidos como Magia Enoquiana, derivam do trabalho do
estudioso Elizabetano Dr. John Dee e de Sir. Edward Kelly. John Dee
tinha uma paixão por descobrir o conhecimento "perdido" e as "verdades
espirituais", em particular, ele queria recuperar a "Sabedoria" contida
em Escritos Antigos. Entre estes escritos estava o Livro de Enoque, o
qual ele concebeu como sendo uma descrição de um sistema de magia usado
por aquele Patriarca. Tendo chegado a conclusão que seus esforços em
descobrir as "verdades" em escritos e livros antigos eram infrutíferas,
decidiu contatar as Forças Divinas pessoalmente. Durante os anos de 1581
à 1585, Dee executou uma longa série de operações de Magia. Kelly se
juntou a Dee em março de 1582, sendo seu assistente exclusivo enquanto
durou seu trabalho.
O método empregado para estes trabalhos era
bastante simples para a época. Dee agia como orador e dirigia fervorosas
orações para Deus e os Arcanjos, com durações que variavam de 15
minutos à 1 hora. Então uma "Bola de Cristal" era colocada em uma mesa
preparada, e os Anjos eram chamados à manifestar um aparecimento
visível. Kelly via através da "Bola de Cristal" e relatava tudo; Dee
sentava-se à outra mesa e registrava tudo o que acontecia.
Dee
fez várias cópias destes registros. Uma porção deles, relativos às
Invocações Angelicais, "Tabletes" e "Liber Scientiae", foram adquiridos
juntamente com a biblioteca de Dee por Robert Cotton. Parte destes
registros foram publicados no "Casaubon's A True and Faithful Relation".
As partes mais antigas relativas à "Heptarchy" e "Liber Loagaeth"
vieram à luz por meios mais indiretos.
Inicialmente, Dee
aparentemente decidiu esconder os seus registros em um compartimento de
um grande móvel de cedro. Depois da sua morte, este móvel passou por
várias mãos. Os documentos escondidos não foram descobertos até por
volta de 1662, e encontraram um destino nas mãos de Elias Ashmole em
1672. Mais tarde a coleção de Ashmole passou para o Biblioteca
Britânica.
De acordo com Ashmole, aproximadamente metade dos
registros escondidos estavam destruídos. Apesar disto, os registros das
operações realizadas de 1581 até 1585 mantiveram-se quase completamente
intactos.
O registro destas operações é muito detalhado; tanto
que leva à um estudo cuidadoso no intuito de separar o "joio do trigo".
Há longos períodos em que as comunicações parecem não ter nenhum
propósito a não ser, manter a atenção dos "Magistas" em continuar as
operações. Durante estes períodos os Anjos apresentaram visões
coloridas, profecias portentosas, e "fofoca angelical", mas muito pouca
informação "sólida". Adicionalmente, o estudioso tem de lidar com
incursões em doutrinas apocalípticas, política, problemas pessoais de
Dee e Kelly, e várias questões irrelevantes que Dee teimou em inserir no
trabalho.
Cronologicamente, o trabalho de Dee e Kelly divide-se
em três períodos altamente produtivos separados por meses nos quais nada
de particular valor foi recebido. Geralmente o material recebido em
cada período é completo em si, e sutilmente relacionado com os outros
períodos. Numa interpretação mais rígida, apenas o material do terceiro
período poderia ser qualificado como "Enoquiano", mas é comum
referenciar todo o trabalho como "Enoquiano".
O primeiro sistema
de Magia "dado" a Dee foi o "Heptarchia Mystica". Um sistema de
complexidade moderada de Magia Planetária, semelhante ao encontrado nos
"Grimórios Salomônicos". O registro de sua apresentação pode ser
encontrado no "Mysteriorum Libri Quinti".
A apresentação deste
sistema Mágico é de notável sequência e ordem. São descritos com
detalhes os "itens" necessários para consecução do sistema. Relata-se
também uma hierarquia angelical de 49 "Anjos Bons", e mais adiante
informações relativas aos Reis e Príncipes da hierarquia, e seus
ministros. A maior parte das informações foram determinadas durante
1582; significativas correções relativas ao desenho dos "itens" foram
determinadas na primavera do ano seguinte, depois de um hiato no
trabalho.
Os anjos afirmam que o anel
que eles projetaram para Dee era o mesmo que Salomão utilizava para
controlar os demônios. O Anel possuía uma faixa clara na qual era fixo
um retângulo. Nos quatro "cantos" deste retângulo eram escritas as
letras PELE. No centro do retângulo havia um círculo cruzado por uma
linha horizontal, acima desta linha havia a letra "V" e abaixo a letra
"L".
Foram dados dois lamens a Dee, um na versão com escrita angélica e outro com caracteres latinos.
O primeiro destes apresentava uma semelhança à vários Sigilos Góticos,
sendo composto por várias linhas desenhadas a "mão livre" e letras
dispostas sem uma ordem aparente. O "ser" que instruiu o desenho deste
lamen, disse que o mesmo deveria ser usado em todas as ocasiões e
locais, como o propósito de proteção.
No ano seguinte, Dee e
Kelly foram avisados por outros "Seres" que aqueles lamens eram falsos e
haviam sido dados por um "espírito" ou "ser" ludibriador. Estes mesmos
seres, deram a Dee instruções para consecução de "Quadrados Mágicos",
compostos por uma matriz (7x12), compostos inteiramente de letras. Ao
contrário dos Lamens anteriores estes tinham o único propósito de
dignificar o Magista, mostrar seus méritos para executar a Magia
Heptarchica.
A "Mesa Santa" ou "Mesa da Aliança"
era a peça central do sistema de Magia Heptarchica. Seu propósito era
ser um "instrumento de conciliação"; o meio pelo qual os poderes que
estavam por ela simbolizados eram trazidos junto ao Magista. Como o
lamen, a versão inicial da mesa, foi depois dita incorreta, e um novo
desenho foi "providenciado".
A mesa possuía um tampo quadrado com
o lado medindo 2 cúbitos* (algo variando entre 90cm e 104cm), com a
altura de 2 cúbitos*. As pernas da mesa terminavam com a forma de taças
viradas para baixo nas quais eram colocadas pequenas cópias do "Sigillum
de Aemeth". A mesa possuía borda de uma polegada, nas quais certas
letras eram desenhadas, 21 para cada lado. Próximo à borda era desenhada
uma Estrela de Davi, e no centro da Estrela um "Quadrado Mágico" de 6
polegadas de lado, formado por uma matriz 3x4 contendo mais letras. Em
cima da mesa eram colocados 7 "Talismãs Planetários", chamados as
"Ensignias da Criação", cada talismã representava um corpo celeste: o
planeta Vênus, o Sol, Marte, Júpiter, Mercúrio, Saturno e a Lua; no centro da mesa era colocado uma versão grande do "Sigillum dei Aemeth".
Quando
em uso, A Mesa, O "Sigillum", e Os Talismãs eram cobertos com um tecido
de seda vermelho. A "Bola de Cristal" era então colocada em cima do
tecido, diretamente em cima do "Sigillum".
(*) Cúbito -
Provavelmente a mais antiga medida linear que se tem notícia, era a
distância entre o cotovelo e dedo médio. Variava entre 45 e 52 cm. O
menor era chamado de "pequeno cúbito" e o maior, "cúbito real".
[Imagem by Google]
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