1. Como em cima, tal é embaixo; o homem é um macrocosmo em miniatura.
Todos os fatos que integram o universo manifesto estão presentes em
sua natureza. Eis por que se diz que, em sua perfeição, ele é maior do
que os anjos. No presente, contudo, os anjos são seres plenamente
desenvolvidos e o homem não. 0 homem é inferior aos anjos da mesma
maneira que uma criança de três anos é menos desenvolvida do que um cão
de três anos.
2. Até agora, consideramos a Árvore da Vida como um
epítome do Macrocosmo, o universo, observando a utilização de seus
símbolos como meio de entrar em contato com as diferentes Esferas da
natureza objetiva. Vamos considerá-la, agora, em relação com a Esfera
subjetiva da natureza do indivíduo.
3. As correspondências
tradicionais dadas por Crowley (que, infelizmente, nunca cita suas
fontes, de modo que não sabemos quando utiliza o sistema de MacGregor
Mathers a quando recorre às suas próprias pesquisas) baseiam-se, em
parte, na atribuição astrológica dos planetas às Sephiroth e, em parte,
num sumário-esquema anatômico da forma humana que dá as costas à árvore.
Essa correspondência muito primitiva para os nossos propósitos, a
representa provavelmente o trabalho das últimas gerações de escribas;
durante a Idade Média, a Cabala foi redescoberta pelos filósofos
europeus, a eles enxertaram nesse sistema simbolismos astrológicos e
alquímicos. Além disso, os próprios rabinos utilizavam um grupo
extremamente detalhado de metáforas anatômicas, discutindo em detalhes o
significado de todos os cabelos sobre a cabeça de Deus, a mesmo as
partes mais íntimas de Sua anatomia. Essas referências não devem ser
tomadas literalmente quando se aplicam à forma humana.
4. As
Sephiroth, tanto em separado como em seu padrão de relações,
representam, com referência ao Macrocosmo, as fases sucessivas de
evolução, e, com referência ao Microcosmo, os diferentes níveis de
consciência a fatores do caráter. É razoável supor que esses níveis de
consciência tenham alguma relação com os centros psíquicos do corpo
físico, mas não devemos ser primitivos a medievais nas conclusões a
que chegamos. A anatomia e a fisiologia oculta foram elaboradas em
detalhe na ciência da ioga hindu, e muito podemos aprender de seus
ensinamentos. Os avanços mais recentes da Fisiologia propendem à
conclusão de que o vínculo entre a mente e a matéria deve ser buscado
primariamente no sistema das glândulas endócrinas e apenas
secundariamente no cérebro a no sistema nervoso central. Podemos
aprender muito também dessa fonte de conhecimento, e, reunindo todas as
informações que pudermos coletar de várias fontes, poderemos finalmente
chegat, por raciocínio indutivo, àquilo que os antigos sabiam por meio
de métodos intuitivos a dedutivos a que levaram a altíssimo grau de
perfeição em suas escolas de Mistério.
5. Concordam geralmente os
autores em que os chakras, os centros psíquicos descritos na literatura
iogue, não se situam dentro dos órgãos aos quais eles são associados,
mas sim no envoltório áurico, nos pontos que lhes correspondem
aproximadamente. Não deveríamos, por conseguinte, associar as Sephiroth
com os membros a outras partes de nossa anatomia, mas encarar a
utilização de tais analogias como metáforas a buscar os princípios
psíquicos nas correspondências que possam apresentar.
6. Antes de
procedermos a um detalhado estudo de cada Sephirah desse ponto de vista,
será muito útil termos uma visão geral da Árvore como um todo, porque a
compreensão total do simbolismo depende do mútuo relacionamento entre
os símbolos no padrão da Árvore. Este capítulo será necessariamente
discursivo a inconclusivo, mas tomará muito mais fácil o estudo em
detalhe das Sephiroth individualmente.
7. A primeira a mais óbvia
divisão da Árvore é em três Pilares, a isso nos lembra imediatamente os
três canais do prana descritos pelos iogues: Ida, Pingala e Sushumna; e
os dois princípios, o yin e o yang, da filosofia chinesa, e o Tao ou
Caminho, que é o equilíbrio entre eles.O testemunho universal estabelece
a verdade e, quando descobrimos três dos grandes sistemas metafísicos
do mundo em completa concordância, podemos concluir que estamos tratando
com princípios estabelecidos, devendo aceitá-los como tais.
8. 0
Pilar Central representa, em minha opinião, a consciência, a os dois
pilares laterais, os fatores positivo a negativo da manifestação. É
digno e menção que, na ioga, a consciência de qual a Kundalini flue
através do canal central do shushumna, a que a operação mágica
ocidental da Elevação nos Planos ocorre na area central da Árvore; ou
seja, o simbolismo empregado para induzir essa extensão da consciência
não toma as Sephiroth em sua ordem numérica, começando por Malkuth, mas
vai e Malkuth a Yesod, a de Yesod a Tiphareth, razão pela qual recebe o nome de Caminho da Flecha.
9.
Os ocultistas consideram Malkuth, a Esfera da Terra, como a consciência
ere al, como se prova pelo fato de que, após qualquer projeção astral, o
retorno cerimonial ocorre em Malkuth, restabelecendo-se aí a
consciência normal.
10. Yesod, a Esfera de Levanah, a Lua, é a
consciência psíquica, e também o centro reprodutivo. Tiphareth é o
psiquismo superior, a verdadeira visão iluminada, a associa-se com o
grau superior da iniciação da personalidade, como se evidencia pelo fato
de que a ela se atribui, no sistema que Crowley toma a Mathers, o
primeiro dos graus do caminho do adepto.
11. Daath, a Sephiroth
invisível a misteriosa, que nunca é assinalada na Árvore, associa-se, no
sistema ocidental, à nuca, o ponto em que a espinha encontra o crânio, o
ponto no qual o desenvolvimento do cérebro, a partir do notocórdio,
ocorreu em nossos ancestrais primitivos. Daath representa geralmente a
consciência de outra dimensão, ou a consciência de outro nível ou plano;
denota essencialmente a idéia de mudança da clave.
12. Kether
chama-se Coroa. A coroa está acima da cabeça, a Kether representa uma
forma de consciência que não é alcançada durante a encarnação, pois está
essencialmente fora do esquema das coisas no que diz respeito aos
planos da forma. A experiência espiritual que se associa a Kether é a
União com Deus, a aquele que atinge essa experiência entra na Luz, dela
não mais retomando.
13. Essas Sephiroth têm inquestionavelmente as
suas correlações nos chakras do sistema hindu, mas as correspondências
são expressas de maneira diversa por autoridades diferentes. Como o
método de classificação é diferente - o Ocidente utiliza um sistema
quádruplo e o Oriente, um sistema sétuplo -, não é fácil obter a
correlação e, em minha opinião, seria melhor antes buscar os princípios
primeiros do que obter um padrão ordenado de disposição que violente as
correspondências.
14. Os dois únicos escritores que, até onde eu
saiba, tentaram estabelecer essa correlação são Crowley e o General J.
F. C. Fuller. 0 General Fuller atribui a Malkuth o Lótus Muladhara,
assinalando que suas quatro pétalas correspondem aos quatro elementos. É
interessante notar que, na escala de cores da Rainha, dada por Crowley,
a Esfera de Malkuth se divide em quatro seções, coloridas
respectivamente de citrino, oliva, castanho-avermelhado a preto, para
representar os quatro elementos, a tendo uma estreita semelhança com as
representações usuais do Lótus de Quatro Pétalas.
15. Esse Lótus
situa-se no períneo a associa-se com o ânus e a função excretora. Na
coluna XXI da tábua de correspondências dada por Crowley em 777, esse
autor atribui as nádegas e o ânus do Homem Perfeito a Malkuth.
Considero que, de todos os pontos de vista, a atribuição de Crowley,
que, na coluna XVIll, o refere a Yesod, contradizendo, assim, a si
próprio. Na mente infantil, de acordo com Freud, as funções de
reprodução a excreção estão confundidas, mas não creio que essa
atribuição possa ser aceita sem restrições.
16. Malkuth, considerado
como o Lótus Muladhara, representa, por assim dizer, o resultado final
do processo vital, sua concretização final na forma, a sua submissão às
influências desintegradoras da morte para que a sua substância possa ser
novamente utilizada. A forma pela qual esse processo foi organizado
pelos lentos mecanismos da evolução serviu a seu propósito, e a força
deve ser libertada, é esse o significado espiritual do processo de
excreção, putrefação a decomposição.
17. 0 chakra Svadisthana, o
Lótus de Seis Pétalas, na base dos órgãos geradores, é atribuído pelo
General Fuller a Yesod. Isso está de acordo com a tradição ocidental,
que atribui Yesod aos órgãos reprodutivos do Homem Divino; sua
correspondência astrológica com a Lua, Diana-Hécate, também concorda com
essa atribuição. Crowley, embora atribuindo Yesod ao falo na coluna XXI
do 777, atribui o Lótus Svadisthana a Hod, Mercúrio. É difícil
compreender essa atribuição e, como ele não cita a sua autoridade,
considero melhor aderir ao princípio de referir os níveis de consciência
ao Pilar Central.
18. Tiphareth, por consenso universal, representa o
plexo solar e o peito; parece razoável, portanto, atribuí-la aos
chakras Manipura a Anahata, como o faz Crowley. Fuller atribui esses
chakras a Geburah a Chesed, mas, como essas duas Sephiroth encontram seu
equilíbrio em Tiphareth, essa atribuição não apresenta dificuldade
alguma, nem causa qualquer discrepância.
19. Da mesma maneira, o
chakra Visuddha - que, no sistema hindu, corresponde à laringe, a que
Crowley atribui a Binah - e o chakra Ajna -, situado na base do nariz, a
que corresponde a glândula pineal a que, pela mesma autoridade, é
atribuído a Chokmah - unem-se por sua função em Daath, situado na base
do crânio.
20. 0 chakra Sahasrara, o Lótus de Mil Pétalas, situado
acima da cabeça, é relacionado por Crowley a Kether, a não há razão
alguma para discordar dessa atribuição, pois ela se encontra
pré-figurada no próprio nome do Primeiro Caminho, Kether, a Coroa, que
repousa sobre a cabeça a acima dela.
21. Os dois pilares laterais, da
Severidade a da Misericórdia, representam os princípios positivo a
negativo, a as Sephiroth que lhes correspondem simbolizam os modos de
funcionamento dessas forças nos diferentes níveis de manifestação.
22.
0 Pilar da Severidade contém Binah, Geburah a Hod, ou Saturno, Marte a
Mercúrio. 0 Pilar da Misericórdia contém Chokmah, Chesed a Netzach, ou o
Zodíaco, Júpiter a Vênus. Chokmah a Binah, no simbolismo da Cabala, são
representados por figuras masculinas a femininas.
23. Chesed
(Júpiter) a Geburah (Marte) são antes representados no simbolismo
cabalístico como figuras coroadas, a primeira como um legislador em seu
trono e a segunda como um rei guerreiro em seu carro. São,
respectivamente, os princípios construtivo a destrutivo. É interessante
notar que Binah, a Mãe Suprema, é também Saturno, o solidificador, que
se une, por meio da foice, com a Morte e a sua ceifeira, e o Tempo com
sua ampuIheta. Encontramos em Binah a raiz da Forma. Afirma-se, na
Sepher Yetzirah, que Malkuth está sentado no trono de Binah - a matéria
tem sua raiz em Binah-Saturno-Morte; a forma é o destruidor da força.
Esse destruidor passivo harmoniza-se também com o destruidor ativo, a
Marte-Geburah acha-se imediatamente abaixo Binah no Pilar da Severidade;
a força encerra-se, dessa maneira, na forma libertada pela influência
destrutiva de Marte, o aspecto Siva da Divindade. Chokmah, o Zodíaco,
representa a força cinética; Chesed (Júpiter), o rei benigno, representa
a força organizada; e ambas são sintetizadas em Tiphareth, o centro
cristológico, o Redentor e Equilibrador.
24. A trindade seguinte,
constituída por Netzach, Hod a Yesod, representa o lado mágico a astral
das coisas. Netzach (Vênus) representa os aspectos superiores das forças
elementais, o Raio verde; a Hod (Mercúrio) representa o lado mental da
Magia. Uma é mística e a outra, ocultista, e ambas se sintetizam no
elemental Yesod. Não podemos considerar esse par de Sephiroth em
separado, assim como o par superior de Geburah e Gedulah, que é outro
nome para Chesed, como podemos inferir do fato de que a Cabala os
atribui, respectivamente, aos braços direito a esquerdo a às per. nas
esquerda a direita.
25. As três Sephiroth da forma acham-se,
portanto, no Pilar da Severidade, a as três Sephiroth da força, no Pilar
da Misericórdia; e, entre eles, no Pilar do Equilíbrio, reúnem-se os
diferentes níveis de consciência. 0 Pilar da Severidade, com Binah em
seu topo, é o princípio feminino, o Pingala dos hindus e o Yang dos
chineses; o Pilar da Misericórdia, com Chokmah em seu topo, é o Ida dos
hindus e o Yin dos chineses; e o Pilar do Equilíbrio é Shushumna e o
Tao.
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