Tradição Gardneriana

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O caminho Gardneriano é o mais antigo da moderna denominação para a Antiga Religião, também chamada Wicca, Bruxaria, ou simplesmente ‘A Arte’. Ele é um sistema de rituais e conceitos teológicos que têm sido transmitidos, através dos anos, de membro para membro, em uma linha direta aquele que foi responsável pela organização e consolidação dos rituais, Gerald B. Gardner.

O sistema Gardneriano é apenas um entre vários sistemas existentes para se conectar com os Mistérios da Arte. Uma vez que o aspecto mais importante é passar pelas etapas através da experiência, os Gardnerianos mantêm seus rituais em segredo daqueles que não foram iniciados na Tradição. Deste modo, se concede a cada pessoa, a oportunidade de constatar por si mesma (o) o que a experiência de cada ritual significa. Nós não falamos sobre o que vai ocorrer no ritual e nem procuramos encontrar o significado desta experiência. Em vez disso, conjuntamente exploramos a natureza dos Mistérios.

O meio usado para que os segredos sejam mantidos é através de juramentos solenes feito perante os Deuses. Neste juramento, o novo iniciado promete não revelar detalhes sobre os instrumentos mágicos, nomes sagrados e aspectos específicos da Tradição Gardneriana e quais são os modos particulares de expressar os Mistérios. No entanto, os conceitos expressados em cada ritual podem ser livremente discutidos e explicados; nós simplesmente não usamos exemplos específicos da Gardneriana para fazê-lo.

Uma vez que, os Mistérios são tão abrangentes, nós temos que desmembra-los em prol de melhor discuti-los e compreende-los. A primeira divisão que os Gardnerianos fazem é estabelecer a dualidade entre o Deus e a Deusa. Simplesmente entenda que a Deusa é a Mãe que dá Vida, e o Deus é o Senhor de Chifres da Morte. A Deusa é a Lua, o Deus o Sol. A Deusa a Terra, o Deus o Céu. Através da União deles que tudo passa a ter sentido, e é a união deles que o Todo Divino é criado. Deste modo, a idéia de uma união criadora é o pilar central para a compreensão da Tradição Gardneriana. Isto é polaridade, a idéia de opostos em uma união harmoniosa. O mesmo conceito exposto pelo símbolo Ying & Yang. Duas metades que se unem para formar algo maior que a soma de suas partes. Os Gardnerianos usam imagens de arquétipos para demonstrar a união entre feminino e masculino, mas não reivindicamos que esta é a única forma de expressão, nem forçamos que uma pessoa as aceite para se tornar Gardneriano. O que é necessário é a compreensão do conceito e ser capaz de visualizar sua beleza e ser capaz de trabalhar o mesmo dentro do conceito ritual. Em outras palavras, a preferência sexual não tem nenhuma relação com o fato de uma pessoa ser ou não Gardneriana e nem interfere sobre sua relação com a Arte.

Os Gardnerianos vêem seu relacionamento com os Deuses de forma recíproca. Nós precisamos Deles e nos damos para Eles; e em igual medida, Eles precisão de nós e nos retribuem. Não vemos os Deuses como estando em algum lugar desconhecido. Pelo contrário, o Divino está entre nós e nós estamos no Divino. Esta afirmação não busca uma forma psicológica para a Religião, mas é uma forma de ver o Todo como ele é. O truque é compreender que os Deuses estão à parte de nós assim como são parte de nós, e ser capaz de entender tais verdades simultaneamente.

Esta idéia de não-dualidade é uma forma de vislumbrar o mundo pela qual se entende que, apesar da separação necessária, esta é uma ilusão decorrente do fato de estarmos trabalhando em campos temporais. Ao mesmo tempo estamos e não estamos separados de todo o resto do universo. Este é outro conceito Gardneriano importante.

Os Gardnerianos usam ciclos da natureza e suas simbologias para representar os Mistérios. Nós honramos o planeta Terra e respeitamos todos os seres vivos e sabemos que somos parte de um ciclo natural, sabendo que devemos repor tudo o que retiramos, assim como compreendemos que todo ser vivo sobrevive através de uma morte. Portanto, nos permitimos retirar a vida do que nos é necessário para viver e reconhecemos tal necessidade perante os Deuses e perante o mundo. Assim, não só lutamos contra o medo da morte, mas sim em aceita-la como parte natural de um ciclo; reconhecendo que assim como compartilhamos das alegrias da vida, devemos compartilhar as tristezas da morte.

Os Gardnerianos acreditam na idéia de reencarnação. Contudo, a forma exata como ela é compreendida é uma questão relegada ao entendimento individual. Isto significa que trabalhamos com a idéia de ciclo da vida, morte e renascimento. Sabemos que se iremos viver, então devemos morrer, assim como devemos renascer. Observamos este fato claramente através dos ciclos da natureza que estão a nossa volta. Logo, considerando que não somos diferentes da natureza, o mesmo é verdade para nós.

Celebramos oito Sabás anuais, tanto para celebrar as etapas do ciclo da natureza como tomar parte delas. Desta maneira afloramos nosso sentimento como parte da natureza, e por isso nossa ênfase em comemorar as estações e fases da Roda do Ano. Nós e o Planeta Terra somos um; e o que fazemos, o Planeta Terra faz e vice versa. Além destes eventos, nos reunimos nas luas Cheias e nos momentos que desejarmos ou for necessário para os membros do Coven.

Nós aceitamos e compreendemos o Trabalho Mágico. Definimos tal assunto como sendo a nossa conexão com o Todo. Afinal, se nós somos uma Única coisa, então afetar o clima é simples como o fato de erguer nossa mão. Nossa ligação com nossa mão é que nos possibilita levanta-la e, da mesma forma entendemos que este vínculo possibilita trabalhar a magia. Evidentemente existem limites, leis naturais, modo como o universo funciona; e não podemos ir contra tais Leis. Não existe torcer o nariz e fazer um pirulito aparecer.

Aceitamos a Lei Tríplice do Retorno e nós seguimos a Rede Wiccana. A Lei Tríplice manda que tudo o que você fizer, bom ou mal, irá afetar tudo ao seu redor e eventualmente retornar para o responsável ampliado por todas as interações ocorridas. Se você luta para ajudar aqueles que precisam, não fique surpreso se ajuda aparecer quando precisar.

A Rede Wiccana afirma: “Se nenhum mal causar, faz o que tu queres.”; tal não é uma simples declaração de que você pode fazer o que bem quiser desde que não machuque ninguém. Na verdade é um conselho profundo sobre o relacionamento de nossas motivações e a responsabilidade de ser um(a) Bruxo(a). Afirma que primeiro você deve saber sua verdadeira motivação, o que é bem diferente do que você quer ou deseja. Em segundo lhe atribui a responsabilidade de ter que investigar as conseqüências que ocorrerão caso sua vontade seja colocada em prática. Em terceiro, aconselha que nenhuma conseqüência ruim deva ocorrer em decorrência do trabalho de seu objetivo. Finalmente é um ato de comando. Lembre-se a Rede não afirma ‘você talvez possa fazer o que quer’. A Rede diz ‘faça o que quiser’, sendo relacionada a ação (ética e responsável) que está preparada para assumir as conseqüências, sejam elas quais forem. A Rede é uma declaração que assegura que tudo que foi feito para a consolidação de sua vontade, não fará mal nenhum; porém, também declara que a pessoa aceita as responsabilidades por seus atos.

Na Tradição Gardneriana, cada coven é comandado por um Alto-Sacerdote e por uma Alta-Sacerdotisa, que trabalham juntos; cabendo a Alta Sacerdotisa a decisão final em caso de divergências. As pessoas que foram treinadas pelo Alto Sacerdote e Alta Sacerdotisa do coven se referem a eles como Rainha e Mago. Cada coven é autônomo, e isto significa que não existe uma autoridade central e que cada Alto Sacerdote e Alta Sacerdotisa decidem como devem administrar o treinamento dos novos Iniciados e, dentro de certos limites, como representar os rituais. Rainha e Mago de um coven são responsáveis por zelar para que seu coven não passe dos limites definidos pela Tradição, no entanto não possuem autoridade sobre aqueles que receberam autorização para iniciar um novo grupo. Contudo, mesmo não tendo autoridade formal sobre o coven novato, a Rainha e Mago devem ser tratados com respeito e carinho de Elders, e assim o sentimento de união da Tradição faz com que ela se propague como uma família.

A Tradição Gardneriana usa o sistema de Três Graus. O postulante deve trabalhar com o coven sem ter contato com os elementos secretos, durante o período de 1 ano e dia. Sendo que a elevação de grau, normalmente, segue o mesmo período de tempo. A etapa que antecede a primeira iniciação pode ser comparada a uma gestação, pois o postulante está sendo preparado para uma nova vida. A iniciação no Primeiro Grau é o nascimento, sendo que o novo membro pouco sabe sobre o novo mundo e sua linguagem. A iniciação de Segundo Grau é equivalente a puberdade e se espera que o membro do coven aprenda a se comportar como adulto no mundo Gardneriano; aprendendo como executar rituais e transmitir os Mistérios. A iniciação no Terceiro Grau ocorre quando o membro do coven possui todas as características plenas e, consequentemente será capaz de partir para estabelecer seu próprio coven. Trata-se de uma grande responsabilidade, moldada em alegria e renovação em nome de uma nova jornada longe dos cuidados da Rainha e Mago.

Esta é uma visão geral da Tradição Gardneriana. Talvez ela não seja o caminho certo para todos, pois seus símbolos e expressões particulares dos Mistérios podem não refletir de forma igualmente atraente entre as pessoas. No entanto, é um das muitas maneiras de expressar a beleza da Antiga religião. Ninguém deve acreditar que precisa ser Gardneriano para ser um(a) Bruxo(a), pois cabe a cada um encontrar o caminho que mais se identifica. A Tradição Gardneriana é simplesmente um entre os vários e belos veículos espirituais e assim como as diferentes espécies de flores, tem seu encanto e aromas próprios.



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